Escola de samba se apresentou durante a audiência pública desta segunda (25)
Nayara Garófalo pontuou que grupos afro fazem trabalho social, mas não têm incentivo

Blocos e escolas do Carnaval de BH reivindicam mais apoio

Comissão de Gastronomia recebe representantes do setor que reclamam da baixa remuneração a artistas que fazem a festa.

25/11/2019 - 21:30 - Atualizado em 26/11/2019 - 11:35

Operadores do carnaval da Capital mineira reclamaram da falta de apoio do poder público, especialmente da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) a essa manifestação cultural que cresce a cada ano. Dirigentes e membros de blocos e escolas de samba, além de músicos e outros artistas reclamaram da baixa remuneração recebida.

Além deles, autoridades participaram de audiência da Comissão Extraordinária de Turismo e Gastronomia, nesta segunda-feira (25/11/19). A PBH e a Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur) não enviaram representantes à reunião.

Além de lamentar a ausência da Belotur, o presidente da Liga Belorizontina de Bocos de Rua, George Cardoso, considerou que o modelo do carnaval de BH não está funcionando. “O realizador do carnaval é o carnavalesco, que deve ser mais bem remunerado”, opinou.

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Dívidas - Ele reforçou que muitos blocos, ao final do Carnaval, saem com dívidas de até R$ 50 mil, mais de quatro vezes o valor da subvenção que recebem da PBH, de R$ 12 mil

Ele avaliou que também o governo estadual deve participar mais ativamente. “Não conheço nenhum carnaval grande sem a aliança do município com o Estado para organizar o evento”, apontou ele, acrescentando que a Belotur tem fugido do debate com os blocos.

Segundo a PBH, no período oficial do carnaval deste ano, a Capital recebeu 4,3 milhões de foliões – obtendo uma alta de mais de 1 milhão de pessoas com relação a 2018. Nesse período, entre 16 de fevereiro e 10 de março, Belo Horizonte teve uma taxa média de ocupação de hotéis de 66,82%, 9,2% a mais do que em 2018.

Kerison Lopes, presidente da Liga dos Blocos de Rua de Santa Tereza, reclamou de problemas que as agremiações vêm tendo no Carnaval: proibição pelo Ministério Público de apresentação de blocos após as 18 horas; falta de um espaço adequado para ensaios e de apoio do governo.

“O Carnaval é um fenômeno cultural. Temos mais de 200 pessoas aprendendo a tocar instrumentos e não recebemos nenhum apoio!”, cobrou. Segundo Kerison, a PBH recebeu neste ano R$ 27 milhões de patrocinadores do Carnaval. E o recurso, afirma, vai em sua maior parte para a estrutura da festa e apenas uma pequena parcela é destinada aos blocos. “Em Brasília, os maiores blocos recebem R$ 200 mil”, criticou.

Também o presidente da Liga das Escolas de Samba de Minas, Márcio Antunes de Souza, reclamou que o chamado “carnaval de passarela” teve prestígio em Belo Horizonte na década de 1980, mas perdeu o apoio da PBH. “O carnaval de passarela tem hoje dinheiro privado e público. Mas a Prefeitura só se preocupa com cercar ruas no Centro, colocar banheiro e grades e pagar os R$ 12 mil aos artistas”, condenou.

Nayara Garófalo é presidente do Angola Janga, bloco afro com maior público no Carnaval de BH, cerca de 100 mil pessoas. Ela informou que, em 2018, além da cota de R$ 12 mil, o bloco recebeu pequeno valor de patrocínio para pagar o trio elétrico.

“É preciso refletir sobre a situação dos outros blocos afro, que além dos desfiles, fazem trabalho social e são abandonados pelo Estado”, reivindicou.

Ela ainda mostrou incentivos oferecidos por outras cidades ao carnaval em comparação com os de Belo Horizonte: em Salvador (BA), a Secretaria de Cultura ofereceu mais de R$ 1 milhão para os blocos afro, com categorias que iam de R$ 30 mil até R$ 300 mil.

“Geramos R$ 6,78 bilhões de renda para o Brasil no carnaval e Minas Gerais aparece na terceira posição, à frente de Salvador. Por que Belo Horizonte e o Estado endividam seus fomentadores de cultura? Os blocos querem, pelo menos, não ter que entrar no cheque especial”, desabafou.

Deputados pedem providências ao Estado e à PBH

Foram aprovados requerimentos de providências às autoridades, assinados pelos deputados Cristiano Silveira (PT) e Mauro Tramonte (Republicanos), que pediram a audiência pública, e ainda, Professor Irineu (PSL), presidente da comissão, Gustavo Mitre (PSC) e Virgílio Guimarães (PT).

Será enviada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo pedido de providências para que priorize o carnaval em suas políticas. Ao Ministério e à Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados, será solicitado o empenho pela assinatura de convênios com a PBH e os blocos e escolas para apoiar o carnaval da cidade. E à Belotur, serão enviadas as notas taquigráficas da reunião, solicitando que abra diálogo com as agremiações.

Cristiano Silveira reforçou que o Carnaval de BH mobiliza 204 mil turistas, com tempo médio de permanência de 4 dias. “Temos que resolver os problemas do carnaval para torná-lo melhor, o que  vai acontecer com maior apoio do poder público aos blocos e escolas”, disse.

Interior - Mauro Tramonte enfatizou a importância da festividade do interior. “Devido à crise, muitas prefeituras não vêm fazendo o Carnaval. Mas a festa revela uma força cada vez maior no turismo e na economia. São mais de US$ 500 milhões gerados por ano, o que equivale a 10% do faturamento do turismo nacional”, salientou.

Professor Irineu afirmou que saía com sentimentos contraditórios da reunião: “triste, por saber que os R$ 27 milhões vão de maneira generosa para a Prefeitura, que repassa tão pouco aos realizadores do carnaval; e alegre, por ter aberto o debate com a categoria”. Ele prometeu se empenhar para que haja distribuição justa dos recursos da festa, inclusive os R$ 700 milhões arrecadados com impostos.

Gustavo Mitre declarou que todos devem se orgulhar dos artistas do Carnaval da cidade, por seu trabalho que gera renda, negócios e turismo.

Já para Virgílio Guimarães, o Carnaval de Belo Horizonte é um fenômeno que merece ser estimulado, mas sem excesso de regramento, para não perder a espontaneidade. 

E o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) refletiu que o Carnaval deve ser colocado como prioritário no momento atual, em que a cultura está ressignificando a existência humana. 

Economia criativa - Na mesma linha, Mauro Werkema, que foi presidente da Belotur há cerca de dez anos, quando o Carnaval na cidade floresceu, lembrou que 87% do PIB da Capital vem do setor terciário, especialmente da economia criativa.

Marina Pacheco Simião, subsecretária de Turismo da Sectur, deixou consignado seu apoio à causa. “Sabemos das restrições que temos, mas vamos apoiar no que for possível”, afirmou ela, abrindo a possibilidade de diálogo com os operadores do Carnaval belorizontino.