Parlamentares de Minas e Goiás se reuniram para debater privatização das estatais de energia
O presidente da CPI da Enel disse que o MP de Goiás e outros órgãos moveram ação contra a empresa
Proposta de venda da Cemig recebe críticas na ALMG

Deputados goianos apontam prejuízos com privatização da Celg

Comissão ouve membros da CPI que apura venda da empresa de energia de Goiás e faz paralelo com proposta para a Cemig.

03/10/2019 - 17:04 - Atualizado em 03/10/2019 - 18:15

Aumento expressivo nas tarifas de energia elétrica, queda na qualidade do atendimento ao usuário e interrupções constantes e prolongadas no fornecimento são alguns dos problemas decorrentes da privatização da Celg, a antiga Companhia de Energia de Goiás. As informações são de deputados goianos que participaram, nesta quinta-feira (3/10/19), de audiência pública da Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A reunião teve por objetivo ouvir membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Enel, a nova empresa de energia de Goiás, italiana. A CPI foi instalada no âmbito da Assembleia Legislativa daquele estado (Alego), para investigar a precariedade do serviço prestado pela empresa estrangeira e o aumento de tarifas ocorrido após a privatização da Celg, há quase três anos.

A visita dos parlamentares goianos é um desdobramento de recente visita feita por deputados mineiros ao Parlamento de Goiás com a finalidade de conhecer a experiência do estado vizinho e recolher subsídios para enfrentar a proposta do governador Romeu Zema de privatização da Cemig, a Companhia de Energia de Minas Gerais.

Privatização gerou serviços ruins e tarifas altas

O presidente da CPI da Enel, deputado Henrique Arantes (sem partido), fez um histórico da situação que levou à privatização da estatal de energia goiana, vendida à italiana Enel em dezembro de 2016.

Segundo ele, a instalação da CPI se deu em 28 de fevereiro deste ano, em razão das inúmeras queixas de usuários quanto à má qualidade do serviço prestado pela empresa italiana e ao aumento progressivo das tarifas. Conforme o relato, em 2015, a tarifa foi reajustada em 6,8%; em 2016, em 8,83%; em 2017, em 14,65% e, em 2018, em 18,54%.

“A Enel é considerada a pior companhia de energia elétrica do País, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”, disse o presidente da CPI, informando ainda que as constantes reclamações e prejuízos à população levou o Ministério Público de Goiás, a Defensoria Pública e o Procon a moverem uma ação civil pública contra a empresa.

Outro deputado goiano, Alysson Lima (Republicanos), explicou que mesmo na época da Celg a imagem da empresa de energia de Goiás já era negativa, devido “ao péssimo atendimento”. Contudo, com a privatização, a despeito do aumento das tarifas, “o serviço ficou ainda pior”, diz ele. “Por isso, temos que ter muito cuidado com a entrega do nosso patrimônio à iniciativa privada", ressalta o deputado.

Para Alysson Lima, não faz sentido privatizar “uma empresa superavitária como a Cemig, com as contas equilibradas”. 

Cemig é a maior empresa de energia da América Latina

A audiência pública foi conduzida pelo presidente da comissão, deputado Repórter Rafael Martins (PSD). Já a iniciativa da audiência foi do deputado Ulysses Gomes (PT), que não concorda com a privatização nem com os argumentos do governo de que é preciso vender a Cemig por uma questão de economia.

“A estatal é a maior empresa integrada do setor de energia da América do Sul, em número de clientes, e a maior da América Latina em quilômetros de rede, equipamentos e instalações”, disse.

Segundo o parlamentar petista, o valor atual da Cemig no mercado é de cerca de R$ 22 bilhões. “Se a venda da estatal fosse hoje, o governo mineiro ficaria com apenas R$ 3,28 bilhões. O montante equivale a um mês da folha de pagamento dos servidores, que, em março, foi de R$ 3,28 bilhões. Caberia ao Estado pouco mais de um terço do deficit fiscal”, compara o deputado, contradizendo, assim, as argumentações do governo.

Função social e compromisso ambiental

“Vender ativos para pagar dívida é uma solução temporária, que não resolve o problema de caixa e retira do Estado o poder de definir políticas públicas de investimento num setor absolutamente estratégico para o desenvolvimento econômico do Estado, de redução das desigualdades regionais e sociais”, disse Ulysses Gomes.

Para reforçar o papel social da empresa, o parlamentar apontou investimentos de R$ 5 bilhões feitos na zona rural, nos últimos quatro anos, beneficiando mais de 50 mil mineiros, com uma cobertura de 99% em 604 municípios.

Quanto ao compromisso ambiental, ele ressaltou que a Cemig é a única empresa não europeia que figura no índice Dow Jones de sustentabilidade, pelo 20º ano consecutivo.

Alegando razões semelhantes, outros parlamentares presentes à reunião também se manifestaram contra a medida, entre eles Alencar da Silveira Jr. (PDT), Zé Reis (PSD), Zé Guilherme (PRP), Andréia de Jesus (Psol) e Cristiano Silveira e Beatriz Cerqueira, ambos do PT.

O representante dos trabalhadores da Cemig, coordenador-geral do Sindieletro de Minas Gerais, Jefferson Leandro Teixeira da Silva, defendeu a ampliação do debate para toda a sociedade e rechaçou as críticas do governador à empresa.

Citando o projeto de usina solar em Pirapora (Norte), lembrou que Minas Gerais é um dos maiores parques de energia solar do Brasil, disse que a Cemig está em fase de ampliação da rede e aumento da carga, e que o governo Zema assumiu a gestão com mais de 40 mil obras concluídas.

Vice-líder do governo defende privatização

Coube ao vice-líder do Governo, deputado Guilherme da Cunha (Novo), o contraponto ao discurso contra a privatização feito pelos demais deputados e convidados.

Ele criticou o tom “muito ideologizado e pouco atento ao cenário” e disse que os números apontam a melhora na qualidade dos serviços após a privatização da empresa goiana.

“A Enel sucedeu uma Celg que já era a pior empresa de energia do País, situação diferente de Minas Gerais”, disse, argumentando que os mineiros contam com uma empresa saudável, mas que não tem condições de atender a todos, porque a demanda é muito maior do que a capacidade de atendimento. “Mais de 400 pedidos de acesso a energia, para empreendimentos empresariais, não estão sendo atendidos pela Cemig”, justificou.

Além disso, apontou que em Goiás, mesmo faturando bem menos que a Cemig, a Enel teria investido mais de 17% de seu faturamento em 2017 e 14% em 2018, acrescentando que a média de hora sem energia, que antes era de 37%, caiu, depois da privatização, para 29%. “Houve uma melhora muito significativa”, afirmou. Quanto ao valor da tarifa, disse que Goiás registrou aumento de 15% em maio 2019, contra 23% em Minas Gerais.

“A estrutura da Cemig vai continuar servindo o povo mineiro. É irrelevante se o agente é privado ou público”, defendeu.

Consulte resultado da reunião.