Alunos do ensino médio se preparam para votar propostas sobre discriminação racial e escolher tema de 2020
Por meio do projeto, Eugênia Siqueira disse ter tido contato com uma formação humanizadora

Aprendizado no PJ Minas 2019 é celebrado por estudantes

Na etapa estadual na ALMG, alunos falam do crescimento como cidadãos e começam a pensar no tema da edição de 2020.

18/09/2019 - 20:41

Os 124 estudantes das diversas regiões do Estado que chegaram à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (18/9/19), para o primeiro dia da etapa final do Parlamento Jovem de Minas 2019 (PJ Minas), trouxeram consigo muito mais que seus pertences pessoais. Eles carregam ainda o aprendizado e o repertório construído coletivamente ao longo das fases municipal e regional, quando se engajaram em atividades de discussão, deliberação e mobilização em torno da discriminação étnico-racial, tema do programa neste ano.

E os jovens que iniciaram essa trajetória no programa de formação política e cidadã, realizado pela Assembleia Legislativa, em parceria com câmaras municipais e escolas públicas e privadas, ingressam na etapa estadual com dois desafios: analisar as 85 propostas de enfrentamento ao preconceito e eleger aquelas consideradas prioritárias e, ainda, escolher o tema da próxima edição do PJ Minas.

A votação das propostas já selecionadas pelos participantes nas etapas municipal e regional será realizada nesta sexta-feira (20), a partir das 10 horas, no Plenário da ALMG. Já a escolha da temática que pautará a edição de 2020 acontece na quinta (19), após a realização das oficinas de vivências nesta quarta.

Leandra Martins, uma das coordenadoras do programa e servidora da Escola do Legislativo, setor responsável pela organização da iniciativa, explica que, após o período de formação que se deu nos 94 municípios participantes e nas cidades-sede dos 16 polos regionais, os estudantes do ensino médio participam das oficinas a fim de se integrarem e elaborarem esquetes teatrais baseadas nas três sugestões de tema: jovens e mercado de trabalho; meio ambiente e desenvolvimento sustentável; e saúde mental de jovens.

As apresentações lúdicas têm como objetivo sensibilizá-los a respeito das pautas e ajudá-los a embasar suas escolhas. “É uma forma de fazê-los refletir sobre as questões e prepará-los para a deliberação que ensejará o primeiro passo de mais uma edição do Parlamento Jovem de Minas”, pontua a servidora.

Estudantes ressaltam crescimento pessoal e político com o programa

Os depoimentos dos estudantes que participaram do PJ Minas 2019 apresentam dois pontos em comum. Eles retratam o crescimento pessoal e o reconhecimento de que, enfim, se sentem cidadãos e capazes de promover também as transformações sociais que julgam necessárias à sociedade.

Para Hugo de Oliveira Francisco, morador de Chiador (Polo Zona da Mata I), o programa proporcionou sua maior socialização dentro do próprio ambiente escolar, além de ter lhe oferecido uma oportunidade singular de discutir atos de discriminação que, “infelizmente, estão presentes no dia a dia”.

Ele espera que, na sexta, quando serão votadas as propostas que serão encaminhadas à Comissão de Participação Popular, para que possam se tornar proposições de leis, dentre outras possibilidades de desdobramentos, a sugestão de aperfeiçoamento e ampliação do sistema de cotas em universidades seja eleita.

Amanda Wanye Belizário Patrocínio, moradora de Bicas (também do Polo Zona da Mata I) ressaltou que o programa conseguiu colocar o preconceito em pauta na cidade. “Embora seja uma prática diária, não paramos para refletir sobre ela. Eu passei a entender que mesmo uma risadinha, um olhar, uma piadinha não são atos a serem ignorados, precisam ser problematizados de forma crítica” defendeu.

Já Eugênia Luz Alves Siqueira, moradora de Bocaiúva (Polo Norte), participou do PJ Minas pela primeira vez neste ano, mas o depoimento da aluna revela o significado dessa experiência. “Eu cresci muito como cidadã”, afirma. De acordo com ela, o conhecimento obtido não se limitou a saber sobre as leis ou sobre direitos e deveres, mas também de ter tido contato com uma formação humanizadora.

Ela conta que a discriminação étnico-racial não lhe afeta de forma pessoal. Eugênia não se considera vítima de preconceito racial, mas entendeu que a discussão é mais do que necessária diante dos possíveis retrocessos: “Temos uma dívida histórica enorme, propor medidas para superar as práticas preconceituosas é mais do que nossa obrigação enquanto sociedade”.

“As discussões, as atividades de mobilização em torno do tema me prepararam para lidar de forma mais crítica com a realidade”, afirmou Vinycius Gabriel Oblonczyk, de Andradas (Polo Sul IV).

Também Emerson Henrique Mendonça França, de Visconde do Rio Branco (Polo Caparaó), disse que esse é um aprendizado que levará para a vida adulta: “na hora de avaliarmos, por exemplo, os candidatos em uma eleição, teremos mais condições de analisar e comparar as diferentes propostas para enfrentar os problemas que nos cercam”.

Engajamento – A participação no PJ Minas também é celebrada pelos coordenadores que organizam as atividades do programa nos municípios, como a coordenadora municipal de São Domingos das Dores (Polo Vale do Aço/Rio Doce), Maria Zelinda. “Os jovens descobrem, no processo, que eles são capazes de atuar e interferir na comunidade em que vivem. Essa descoberta deles como cidadãos é a maior recompensa do nosso trabalho”.

Já Felipe Nascimento, coordenador de Extrema (Sul I), passou por todas as fases do programa como estudante e, hoje, como parte da equipe de organização já contabiliza alguns desdobramentos de sua trajetória no PJ Minas, que se iniciou em 2015. Atualmente, trabalha na câmara municipal, tendo como foco de sua atuação a promoção do programa no município.