Participantes de audiência avaliaram como positivas as ações no Dia Internacional da Mulher, mas lembraram que lutas históricas continuam
Kate Rocha (esquerda) disse que a procura ao Centro Benvinda aumentou 30% na semana seguinte ao evento
Ana Paula (esquerda) defendeu aumentar o efetivo nos plantões de atendimento das delegacias de atendimento à mulher

Festa e luto: mulheres avaliam evento de 8 de março

Ato que reuniu comissão da ALMG e movimentos sociais é comemorado, mas demandas urgentes são reforçadas.

21/03/2019 - 14:13 - Atualizado em 21/03/2019 - 15:16

A unificação de várias demandas, que representam a diversidade das mulheres e suas lutas, foi um dos pontos altos do Ato Unificado das Mulheres realizado em Belo Horizonte no dia 8 de março. Essa foi a avaliação das participantes de audiência pública nesta quinta-feira (21/3/19), da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que participou das manifestações. A reunião foi marcada para avaliar as ações no Dia Internacional da Mulher.

Na ocasião, vários grupos e movimentos da sociedade civil se movimentaram em manifestações que saíram de diversas áreas da cidade e se encontraram na Praça da Estação. A Comissão da ALMG participou a partir da Praça 7, onde foi realizado o evento Sempre Vivas – Mulheres em luta contra a violência. Na ocasião, foi realizada reunião na praça, onde denúncias e reflexões sobre as questões de violência contra as mulheres foram feitas pelas participantes.

Foram, segundo Dirlene Marques, coordenadora da Rede Feminista de Saúde, mais de 40 grupos que participaram do Ato Unificado. “Pela primeira vez, conseguimos descentralizar as discussões por vários bairros e comunidades e unificar, ao final, na Praça da Estação, todas as lutas, marcadas pela diversidade das mulheres”, disse, lembrando que estavam presentes demandas dos movimentos feministas negro, indígena e transgêneros. Para ela, a unificação foi representada também pela leitura de um manifesto construído conjuntamente.

Também foi considerada positiva a inclusão de uma tenda no evento, na qual membros de várias instituições da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres apresentaram os serviços oferecidos para acolher as vítimas.

Segundo Kate Rocha, gerente do Centro Especializado de Atendimento à Mulher Benvida, da Prefeitura de Belo Horizonte, as ações na tenda atraíram atenção e muitas pessoas buscaram compreender os serviços prestados e levar material informativo sobre o Centro. Na semana seguinte ao Ato, a procura ao Centro aumentou, ainda de acordo com Kate Rocha, em 30%.

Kate Rocha avaliou bem, ainda, o uso de manifestações artísticas durante a audiência pública realizada na Praça 7. As demais convidadas também elogiaram a escolha. “A arte ajuda a atingir pessoas de outras formas”, afirmou Viviane Coelho Moreira, diretora municipal de Políticas para as Mulheres da Secretaria de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania da Prefeitura de Belo Horizonte.

Já Elizabeth Fleury, do Movimento Quem Ama Não Mata, curadora da exposição em cartaz na Galeria de Arte da ALMG, propôs que a exposição seja levada posteriormente às cidades pólo de Minas Gerais para regionalizar as discussões. A exposição, entre outras coisas, traz o histórico das lutas das mulheres em Minas Gerais.

União - A deputada Andréia de Jesus (Psol) disse que a luta também é feita com festa. “É assim que aglutinamos pessoas, partidos políticos, grupos. A cultura é um instrumento que agrega e une”, disse. Ela lembrou que a necessidade de unir forças para o enfrentamento das violências deve levar também à superação das fronteiras entre as esferas governamentais para que seja possível pensar em políticas públicas abrangentes.

Lutas urgentes que não podem ser esquecidas

Als convidadas trataram também de avanços urgentes que precisam ser conquistados. “A praça foi muito interessante, mas temo que se transforme só em um lugar de onde saímos alegres. O momento não é de alegria, é de luto”, disse a superintendente do Consórcio Regional de Promoção da Cidadania das Mulheres das Gerais, Ermelinda de Fátima Ireno de Melo.

Ela lembrou o aumento dos números de femicídio e disse que as instituições estão falhando na implantação das determinações da Lei Maria da Penha e que é preciso fazer a autocrítica e melhorar o funcionamento das redes de apoio. 

Nesse sentido, as delegadas Ana Paula Lamego Balbino e Carla Cristina Oliveira Vidal, ambas titulares de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher da Polícia Civil, apontaram para a necessidade de aumentar o efetivo nos plantões de atendimento. Segundo elas, cada plantão chega a receber 60 a 80 mulheres e não há funcionários suficientes para atendê-las satisfatoriamente.

Carla Vidal não deixou de salientar, porém, que conquistas já têm sido alcançadas e citou a inauguração recente de novo prédio para a Divisão Especializada em Atendimento a Mulher, ao Idoso, a Pessoa com Deficiência e Vítima de Intolerância.

A deputada Delegada Sheila (PSL) parabenizou as colegas pela inauguração da Divisão e disse que, como policial civil, conhece as dificuldades financeiras da insitiuição e sabe o quanto é complexo avançar nas demandas. Ela também ressaltou a importância de ampliar a prestação de serviços das delegacias especializadas no interior do Estado.

A deputa Marília Campos (PT), presidenta da comissão, disse que esteve na Divisão durante a inauguração do novo prédio. Ela ressaltou que a conquista é importante, mas disse que a melhoria do atendimento, a começar pelo aumento do efetivo nos plantões citados pelas delegadas, ainda tem que avançar. 

Denúncia – Também o combate à violência policial contra manifestações dos movimentos sociais foi identificado como obstáculo a ser vencido. Sara Abreu, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, contou que no dia 8 de março foi realizado ato no município de Sarzedo, próximo a Brumadinho (RMBH), no qual estavam planejadas homenagens às mulheres mortas pelo rompimento da barragem da Vale em janeiro deste ano.

Segundo ela, os manifestantes teriam sido agredidos por policiais militares, que usaram bombas de efeito moral, e 11 mulheres se feriram. Antes mesmo do seu relato, a comissão já havia aprovado requerimento da deputada Beatriz Cerqueira (PT) para discutir a ação da Polícia Militar.

Consulte o resultado da reunião.