Especialistas defenderam novas abordagens em campanhas, com foco não apenas nas drogas ilícitas, mas também no consumo de bebida alcoólica entre crianças
Filhos e netos de hansenianos e que vivem nas antigas colônias também estariam ameaçados pelo tráfico.
Especialista defendem novas estratégias para discutir prevenção às drogas com jovens

Combate às drogas na juventude precisa mobilizar famílias

Convidados reforçaram a importância do exemplo familiar na formação dos jovens e na prevenção ao uso das drogas.

20/06/2018 - 19:39

A prevenção ainda é a melhor forma de combater o avanço das drogas sobre a juventude. Essa foi a conclusão dos participantes de audiência pública da Comissão de Prevenção e Combate ao uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta quarta-feira (20/6/18), tendo em vista a Semana Nacional de Prevenção às Drogas, cujo tema em 2018 é “A vida é a sua melhor viagem”.

O especialista em psicanálise e educação, Sérgio Porfírio, destacou os desafios de conscientizar as crianças e os adolescentes contra as drogas numa era globalizada em que todos possuem acesso à internet por meio de seus smartphones.

“Hoje temos acesso ao mundo inteiro em nossas mãos. Está favorecida não a relação pessoal, mas a on-line. Nos conectamos apenas quando interessa. E essa facilidade passa para tudo. Quando sentimos angústia, recorrer às drogas é o caminho mais fácil”, explicou.

Sérgio Porfírio também enfatizou que as campanhas precisam deixar de focar apenas nas drogas ilícitas e buscar conscientizar também contra o consumo de bebida alcoólica entre crianças.

“Cerca de 65% das crianças entre 11 e 13 anos já beberam. Às vezes a gente foca demais no ilícito, mas a bebida é igualmente prejudicial. A prevenção precisa pensar na redução dos danos, envolvendo toda a sociedade e em todos os ambientes, especialmente a família. Só uma campanha convencional de dizer não às drogas não funciona”, completou.

A presidente do Conselho de Políticas sobre Álcool e outras Drogas da Prefeitura Municipal de Contagem, Soraya Romina Santos, endossou a ideia de uma ação de prevenção que comece dentro das famílias e permeie todo o desenvolvimento escolar.

“Não é verdade que o álcool e as drogas só estão presentes nas escolas da periferia, carentes. Em escolas de classe alta também temos o consumo, ele está em todo o conjunto da sociedade brasileira. E precisamos chegar junto a esses jovens, correr atrás do prejuízo”, relatou.

Exemplo - O assessor de gabinete da Subsecretaria de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Estado de Segurança Pública, Luciano Magno Pinheiro, reforçou como o exemplo familiar é importante na formação de crianças e adolescentes.

“As drogas lícitas são muito difundidas e sustentadas culturalmente. Estão sempre presentes em festas e comemorações. E como as crianças enxergam os adultos que consomem? Eles sempre parecem felizes consumindo. Elas aprendem vendo, por observação. É dentro de casa que se começa a prevenção”, avalia.

O superintendente da Comunidade Terapêutica Mães e Filhos, Marcílio de Assis, destacou, ainda, o papel que as drogas estão assumindo entre os próprios genitores, que deveriam proteger e conscientizar a juventude.

“Como prevenir se os próprios pais já são dependentes químicos? Como fazer com uma situação dessas, quando o pai é alcoólatra ou fumante e expõe os filhos? Temos que ter campanha de ano todo, em todos os locais. Antes de medicar, é preciso focar em tratar na origem, na família”, completou.

Tráfico ronda antigas colônias de hansenianos

O presidente da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais (Asthemg), Carlos Augusto dos Ramos Martins, denunciou a situação vivenciada por filhos e netos de pessoas atingidas pela hanseníase e que vivem nas antigas colônias, prejudicados por um abandono histórico do Estado e, agora, ameaçadas pelo tráfico.

“Esse isolamento e a falta de estrutura contribuíram para que o tráfico prosperasse em muitos desses lugares. Retomamos aqui a necessidade da ALMG de discutir o Projeto de Lei 4.828/17, que trata da concessão de pensão especial, mensal, vitalícia e intransferível aos filhos de pessoas atingidas pela hanseníase. É hora do Governo reparar toda uma vida prejudicada dessas pessoas”, cobrou Carlos Martins.

Onipotência - Autor do requerimento que deu origem à reunião e presidente da comissão, o deputado Antônio Jorge (PPS) explicou que muitos jovens experimentam as drogas por acreditarem ser onipotentes e inatingíveis, mesmo tendo informações a respeito. “Eles sabem que as drogas fazem mal, mas acreditam que podem superar, que são imunes de alguma forma", aponta.

"As campanhas precisam ter isso em perspectiva. Temos de ir além da informação para mudar o comportamento. Construir as campanhas de maneira correta, pesquisando junto aos jovens e com recursos. Sem financiamento não se faz política de governo”, enfatizou Antônio Jorge.

Consulte o resultado da reunião.