Assunto foi debatido pela Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas nesta quarta (28)
Valéria Viana contou que objetivo é ampliar o número de consultórios de rua

Trabalho em rede para atender dependentes químicos é desafio

Parceria entre governo e comunidades terapêuticas é fundamental para recuperação de usuários de drogas que vivem na rua.

28/06/2017 - 20:39

Um trabalho em rede, que envolva parceria entre os Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams) e as comunidades terapêuticas, foi apontado como solução possível para melhoria da situação dos dependentes químicos em situação de rua. O tema foi debatido em audiência pública da Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (28/6/17).

O presidente da comissão e autor do requerimento para a reunião, deputado Antônio Jorge (PPS), disse que as entidades precisam superar a visão compartimentada de que o tratamento é responsabilidade apenas das comunidades ou do poder público, sendo necessária sinergia entre todos os envolvidos.

“Temos de unir esforços e tolerar as diferenças. Não tenho viés religioso, mas respeito as entidades que usam isso para ajudar as pessoas. A demanda é muito grande e um dispositivo só não esgota. É sábio dos governos identificar gente séria e vocacionada que possa fazer esse trabalho e reconhecer que muitas vezes a sociedade faz melhor”, ressaltou.

Além da necessidade do trabalho em equipe, representantes de entidades presentes à reunião citaram o preconceito contra usuários de drogas como obstáculo à recuperação dessas pessoas, que muitas vezes passam por diversos tratamentos e não recebem a oportunidade de reinserção social.

O coordenador da Casa Azul de Acolhimento, Almir Alves dos Santos, reforçou que faltam chances de trabalho para moradores de rua e usuários de drogas em processo de reabilitação. “A sociedade gosta de passar uma imagem liberal, mas também é bastante preconceituosa. Se esperar apoio de alguém, fica na mão. Tem de acreditar em si mesmo em primeiro lugar”, disse.

A coordenadora da Unidade de Acolhimento República Fábio Alves do Santos, Andréa de Oliveira Chagas, também citou o preconceito como o pior obstáculo. “Temos de dar oportunidades para essas pessoas crescerem. Elas precisam de acompanhamento. A abordagem higienista não funciona e a questão espiritual precisa ser trabalhada, pois estão muito fragilizadas”, defendeu.

Dignidade - O coordenador da Missão Batista da Cristolândia, pastor Otílio Moraes de Castro, falou do trabalho da comunidade, espalhado por sete estados, com atendimento de 80 mil usuários por ano. “Temos a preocupação de, após o programa de 12 meses, buscar a reinserção social das pessoas, dando a elas empregos e devolvendo sua dignidade. Não temos nenhum repasse do poder público”, afirmou.

A auxiliar de Políticas Públicas da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), Ângela Chaves, relatou sua experiência pessoal como familiar de dependente químico. “O sistema não ajuda nem facilita para as famílias. Ninguém sabe onde ficam os consultórios de rua. O atendimento precisa ser mais efetivo, a pessoa ser acolhida naquele momento: mesmo que ela não fique, que saiba onde buscar ajuda”, disse.

O deputado Dilzon Melo (PTB) criticou a ausência de programas do Estado para acompanhamento das pessoas em situação de rua. “Recebem abrigamento por um ano. E depois? Um presidiário serve, mas o morador de rua, não? Por que o Estado não prioriza a reinserção? Por que não há um programa sequer? Sem essas entidades, o que seria desse povo?”, questionou.

Estrutura de atendimento está superlotada

Representando a coordenação municipal de Saúde Mental, Valéria Viana Gualberto afirmou que a rede está com demanda excedente à sua capacidade. “Temos apenas quatro consultórios de rua, mas nossa intenção é que no futuro tenhamos, pelo menos, um consultório por regional. Nosso horário de funcionamento é diferenciado, das 15 às 21 horas. E temos tido um retorno consistente”, explicou.

A coordenadora do programa Consultório de Rua, Daniela Vassalo Cruz, frisou que pelo menos 95% do público adulto atendido está desempregado. “Desde janeiro deste ano, estamos conseguindo articular melhor os atendimentos conjuntos por parte de todos os dispositivos da rede”, informou.

A presidente do Projeto Ammor, Irene Adams, disse sentir orgulho da estrutura de atendimento a moradores de rua em Belo Horizonte. “A infraestrutura é excelente e sempre busca primeiramente a conciliação com a família”, elogiou. Ela disse ainda que a recuperação é bem-sucedida apenas quando o sujeito se sente protagonista da própria história, recebe suporte e acredita em si mesmo.

Protesto - O ex-usuário de drogas Helbert Imbuzeiro manifestou-se contrariamente à desocupação do viaduto na Avenida Silva Lobo, onde moravam mais de 30 pessoas, feita pela Prefeitura de Belo Horizonte nesta quarta-feira (28). Algumas eram dependentes químicas acompanhadas pelo Consultório de Rua.

“Não fizemos parte disso. Queremos localizar essas pessoas e estudar formas de continuar nosso trabalho com elas”, afirmou Daniela Cruz, ao endossar o protesto.

Consulte o resultado da reunião.