Parlamentares enfatizaram, na reunião nesta quarta (28), importância da mobilização da sociedade

Leonardo Boff defende coragem para superar a crise

Em audiência da Comissão de Direitos Humanos, teólogo apoia greve geral como reafirmação da democracia.

28/06/2017 - 19:47 - Atualizado em 28/06/2017 - 20:03

“Devemos ter esperança, que deve vir sempre acompanhada de suas duas irmãs: a indignação e a coragem”. Com a citação de Santo Agostinho, o escritor e teólogo Leonardo Boff concluiu sua fala sobre o atual momento político brasileiro, defendendo a mobilização popular para enfrentar o governo de Michel Temer, especialmente na greve geral marcada para esta sexta-feira (30/6/17).

Boff participou de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na tarde desta quarta-feira (28/6/17). Solicitada pelo deputado Durval Ângelo (PT), a reunião teve como objetivo debater o fortalecimento da democracia e a defesa de direitos.

“Se o atual governo não faz justiça para o povo e tira seus direitos, esse mesmo povo tem o direito de não dar paz aos donos do poder e de encher as ruas”, avaliou Boff. Isso seria, na visão do escritor, avançar em relação ao atual momento de desalento e perplexidade, partindo para a ação.

O atual quadro demonstra para Boff o quanto o Brasil retrocedeu em relação aos governos Lula e Dilma, nos quais, segundo ele, foi valorizada a democracia participativa, com os movimentos sociais interferindo nas decisões governamentais. “Nenhum grande projeto poderia ir para a frente sem consulta à sociedade”, lembrou.

O filósofo defendeu a radicalização da democracia, com ampliação dos ideais sociais. “Precisamos da democracia do bem viver, com todos tendo boas condições: não só seres humanos, mas os animais e o meio ambiente”, postulou. No Brasil, o maior desafio nesse sentido é acabar com a injustiça social, na sua avaliação.

Apesar da crise atual, Leonardo Boff mostrou-se confiante no destino da humanidade. “Caminhamos para uma grande democracia planetária. Os problemas são mundiais, então as soluções têm que ser sistêmicas, planetárias. Nós vamos ao encontro dessa democracia, quer queiramos ou não. Podemos sonhar com isso e enriquecer nossa perspectiva”, concluiu.

Reafirmar a democracia é uma necessidade

O deputado Durval Ângelo relembrou uma história contada por José Saramago no Fórum Social Mundial, em 1991. Ele disse que, numa pequena aldeia medieval, a vida era regulada pela batida dos sinos e certa vez, badalaram o toque de finados. Como de costume, os moradores foram à igreja para saber quem tinha morrido. Lá, um camponês disse que os sinos tocavam daquela forma porque tinha morrido naquele dia a justiça. “Numa demanda de terra, o camponês tinha sido injustiçado por um grande latifundiário”, contou.

“Hoje podemos tocar os sinos como os da aldeia”, lamentou o parlamentar, referindo-se à conjuntura nacional. Por outro lado, ele ressaltou que a presença de Leonardo Boff na reunião representava uma mudança de perspectiva. “Boff está aqui para que a gente possa tocar não o sino de finados, mas o de esperança, de júbilo, de aleluia, e para dizer que a causa continua viva e precisa de nós todos, para mudarmos essa realidade”, conclamou.

O deputado Cristiano Silveira (PT) concordou e elogiou a fala de Leonardo Boff, considerando-a "instigante" e fundamental para apontar caminhos na atual circunstância. 

O secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário Miranda, acrescentou que a democracia brasileira está sendo golpeada com as medidas tomadas pelo atual governo. “Discute-se um modelo não público de aposentaria; a assistência social cidadã está sendo solapada aos poucos; e o pilar do trabalho decente também está caindo”, lamentou. Por todos esses motivos, Nilmário considerou fundamental neste momento reafirmar a democracia.

Movimentos sociais chamam para greve geral

Convocaram a população a participar da greve geral nesta sexta-feira (30) representantes de várias entidades, como: União Estadual dos Estudantes (UEE), Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG), Brigadas Populares, Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG e diretórios estaduais do PT e do PCdoB.

Luana Ramalho, presidente da UEE, disse que o atual momento, apesar da repressão, tem sido uma grande experiência para as novas gerações. “Antes, tínhamos só golpes militares. Agora, temos um golpe modernizado, que usou a Justiça, por meio da Operação Lava-Jato, para desmontar a soberania nacional e criminalizar a política, alienando a população”, ressaltou.

Gênero - João Batista Miguel, secretário de Estado adjunto de Cultura, acrescentou que “os grandes pensam para os grandes”, citando o bispo Dom Pedro Casaldáliga. “Assim também é com a grande mídia, o capital, os latifúndios, que trabalham pela desconstrução do nosso estado democrático de direito”, avaliou.

Beatriz Cerqueira, da CUT-MG, reforçou que o "golpe perpetrado pelo grupo de poder de Temer" é também de gênero, pois tiraram do poder uma mulher (Dilma Roussef) que não cometeu nenhum crime, segundo ela. “Fora Temer e diretas já!”, conclamou.

Leonardo Péricles, da Frente Povo sem Medo, ponderou que, mesmo com todas as dificuldades, houve avanços na unidade do movimento popular. “Quanto Temer assumiu, disse que as reformas seriam feitas em dois meses. Mas não fizeram até hoje porque houve resistência popular”, declarou.

Consulte o resultado da reunião.