Na reunião, foi informado que há um crescimento no número de pessoas com espectro do autismo, que não é acompanhado pela implementação das políticas públicas
O deputado Antônio Jorge (à direita) cobrou treinamento específico de profissionais da saúde

Políticas públicas voltadas para o autismo são insuficientes

Conclusão foi feita em reunião da Comissão de Saúde, na qual foi cobrada melhoria no atendimento pelo poder público.

26/04/2017 - 12:33 - Atualizado em 26/04/2017 - 14:35

A necessidade de melhoria nas políticas públicas voltadas para as pessoas com transtorno do espectro do autismo (TEA), em especial para os adolescentes e adultos, foi defendida nesta quarta-feira (26/4/17), em audiência da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A assessora da Associação da Síndrome de Asperger no Transtorno do Espectro do Autismo, Denise Martins Ferreira, lembrou que a rejeição social, percebida desde a infância, torna-se pior na adolescência, podendo levar ao uso de drogas, por exemplo.

Denise Ferreira apontou que a pessoa com espectro do autismo precisa de tratamento contínuo e permanente, não bastando o diagnóstico precoce. “Precisamos de políticas públicas que contemplem os adolescentes, os jovens e os adultos. Esse é o momento em que as famílias mais precisam de apoio, mas existe uma lacuna nas políticas públicas”, ponderou.

O vice-diretor do Hospital Infantil João Paulo II, Cristiano Túlio Maciel Albuquerque, também falou sobre a falta de políticas públicas para os jovens e adultos. Segundo ele, não existem serviços especializados para o antedimento das pessoas com o espectro do autismo após os 18 anos.

Morosidade - A superintendente do Centro de Atendimento e Inclusão Social (Cais), Cristina Abranches Mota Batista, destacou que há um crescimento no número de pessoas com espectro do autismo, mas a implementação das políticas públicas é extremamente morosa.

Cristina Batista falou sobre as dificuldades que o Cais enfrenta para atender essas pessoas, diante da falta de eficácia das políticas públicas e da falta de previsão para credenciamento de determinados atendimentos.

Brasil possui cerca de 2 milhões de pessoas com TEA

O vice-diretor do Hospital Infantil João Paulo II, Cristiano Albuquerque, afirmou que existem no Brasil cerca de 2 milhões de pessoas com TEA. Segundo ele, calcula-se que a cada 110 pessoas, uma tenha o transtorno.

Cristiano Albuquerque apontou que existe uma baixa no diagnóstico do espectro do autismo, sendo que, por exemplo, é possível que grande parte da população de rua tenha TEA e não esteja recebendo o atendimento adequado.

Cotas - A coordenadora estadual do Projeto de Inclusão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, Patrícia Siqueira Silveira, defendeu a integração e a inserção das pessoas com deficiência na sociedade e afirmou que atua justamente na sensibilização das empresas com isso.

Segundo ela, em Minas Gerais, está havendo um crescimento do número de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Ela afirmou que hoje cerca de 50% das cotas para pessoas com deficiência no estado estão preenchidas.

Falta capacitação para profissionais da saúde e da educação

Outro ponto defendido na audiência foi a necessidade de capacitação dos profissionais da saúde e da educação para o atendimento às pessoas com TEA. O autor do requerimento para a reunião, deputado Antônio Jorge (PPS), afirmou que é necessário um treinamento específico dos profissionais que trabalham na atenção primária da saúde em Minas.

Segundo ele, existe uma alta incidência do TEA na sociedade, mas as políticas públicas ainda são insuficientes e muitas vezes os casos não são diagnosticados no sistema público de saúde.

Já a representante da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Lérida de Sá Orlandi, defendeu a capacitação dos professores e pedagogos. Ela afirmou que a OAB recebe com frequência demandas sobre as dificuldades na inclusão escolar das pessoas com espectro do autismo.

A coordenadora do Núcleo de Apoio à Inclusão de Cataguases (Zona da Mata), Ginna Cláudia Lacerda, falou sobre a assistência prestada pela instituição e sobre as dificuldades enfrentadas, em especial diante da falta de capacitação dos profissionais da educação.

Dificuldades - O presidente da comissão, deputado Carlos Pimenta (PDT), falou sobre a dificuldade das famílias que possuem pessoas com espectro do autismo. Ele destacou que essas famílias muitas vezes contam apenas com o apoio de associações e de doações.

A representante da Associação dos Amigos do Autista de Minas Gerais e mãe de dois filhos com TEA, Maria Helena Roscoe, fez um relato sobre a sua situação. Para ela, é preciso uma atenção especial do poder público para garantir a dignidade da pessoa humana. “Mesmo as famílias com mais recursos financeiros enfrentam adversidades. O estado tem que se aparelhar e criar estruturas para que as famílias sejam acolhidas”, defendeu.

Asperger - Por fim, outra representante da Associação da Síndrome de Asperger, Cynthia de Lima Patri, falou sobre as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com esse transtorno, diante da falta de políticas públicas específicas. Segundo ela, sete em cada dez pessoas com a síndrome chegam a tentar o suicídio em algum momento da vida, o que indica a falta de atenção e de tratamento.

Consulte o resultado da reunião.