O evento reuniu especialistas, autoridades e representantes do movimento feminista no Plenário
Para Macaé Evaristo, o Brasil está passando por um retrocesso nos direitos humanos
Participantes do evento fizeram um protesto contra o machismo

Mulheres pedem maior representatividade na ALMG

Frente parlamentar e garantia de vaga para as deputadas na Mesa da Assembleia são demandas apresentadas em evento.

30/03/2017 - 19:19

A cobrança por maior presença feminina nas instâncias de poder foi um dos destaques da abertura do Ciclo de Debates Pela Vida das Mulheres: Educação, Enfrentamento do Machismo e Garantia de Direitos, realizado nesta quinta-feira (30/3/17). Ao longo da tarde, o evento reuniu especialistas, autoridades e representantes do movimento feminista na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

"A presença de uma mulher na Mesa da ALMG evidenciaria a participação efetiva das mulheres nas tomadas de decisão", opinou a presidente do Conselho Estadual das Mulheres, Larissa Amorim Borges. De acordo com ela, todos os espaços da sociedade precisam ser usados para educar homens e mulheres no entendimento de que o feminismo garante direitos iguais a todos.

Representando a comissão organizadora do evento, Maria Isabel Bebela Ramos de Siqueira compartilhou do sentimento da colega. “Não podemos retroceder. A criação de uma frente parlamentar que lute pelos direitos das mulheres e a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 16/15 são medidas que hoje consideramos essenciais para a nossa luta”. A PEC 16/15 tem o objetivo de garantir a presença de pelo menos uma mulher na Mesa da ALMG.

A criação da frente parlamentar também foi medida destacada pela deputada Marília Campos (PT). “Todos os dias eu faço um esforço muito grande para não me intimidar aqui, um ambiente muito masculino, como toda a política brasileira. Precisamos de uma reforma política séria, que traga a cota alternada de homens e mulheres, para garantir mais representantes femininas no Parlamento”, defendeu.

A secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo, frisou que o momento político atual é de retrocesso no que diz respeito aos direitos humanos. “Com a aprovação do teto de gastos públicos federais, os investimentos em educação ficarão congelados nos próximos 20 anos. As reformas da Previdência e trabalhista são políticas de extermínio de mulheres, já que ficaremos sem aposentadoria e sem vínculo empregatício”, alertou.

A deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG) também foi incisiva em sua crítica aos projetos de terceirização e de reforma da Previdência. “Estamos enfrentando perdas das mais graves: não temos mais a Secretaria Nacional de Mulheres. Mas somos teimosas na busca de um mundo novo. Ninguém nos parará!”, acrescentou.

Presidindo a abertura do evento, a deputada Celise Laviola (PMDB) falou do compromisso da ALMG de lutar permanentemente por uma sociedade mais justa e fraterna. Ela lembrou a realização de ciclos de debates em defesa das mulheres em 2015 e 2016 e a atuação da Comissão Extraordinária das Mulheres, encerrada no final do ano passado.

“Precisamos substituir o machismo pelo respeito. É necessária uma mudança cultural, por meio de investimento em educação. Precisamos sempre afirmar que lugar de mulher é onde ela quiser", disse Celise Laviola.

A deputada Ione Pinheiro (DEM) lembrou que, a cada hora, 15 mulheres mineiras são agredidas. Já a deputada Rosângela Reis (Pros) ressaltou os diversos tipos de violência que as mulheres vivenciam no dia a dia. “Apesar de já estarmos em diversos espaços, ainda precisamos romper paradigmas nas relações sociais. Temos que buscar igualdade, justiça e dignidade”, defendeu a parlamentar.

Desconstrução do machismo é tarefa de todos

A superintendente de Modalidades e Temáticas Especiais de Ensino da Secretaria de Estado de Educação, Iara Pires Viana, iniciou o primeiro painel do evento - “A importância das discussões relativas a gênero e do enfrentamento da cultura do machismo na educação”.

Iara começou sua exposição desconstruindo mitos sobre a violência doméstica. Ela rebateu, por exemplo, a ideia de que a violência familiar é rara, restrita a pessoas doentes ou com distúrbios mentais. “A mulher é criada para achar que deve servir ao marido, e por isso, muitas vezes é levada a assumir a culpa pela violência que sofreu”, comentou.

A superintendente também ressaltou que é papel da escola e da sociedade fomentar discussões relativas a gênero e ao enfrentamento da cultura do machismo. “A violência que acontece na escola nada mais é do que a violência da sociedade. A escola sozinha não dá conta do processo de desconstrução (da violência). Todos precisam e devem participar”, defendeu.

A presidente do Sindicato dos Professores (Sinpro-MG), Valéria Morato, reforçou que “questão de gênero é questão de direitos humanos” e fez uma provocação sobre o papel da escola: “Estamos reproduzindo o machismo ou trabalhando para transformar a realidade?".

Na sua avaliação, é preciso oferecer uma educação mais progressista, para que os homens se coloquem nos lugares das mulheres. "O assunto precisa ser abordado nas diversas disciplinas e a resistência ao tema poderia ser superada com mais investimentos na formação dos educadores”, argumentou.

Valéria pediu melhor preparo das pessoas que atendem a mulheres em situação de violência. “O Brasil, numa lista de 83 países, ocupa o triste 5º lugar na taxa de violência contra as mulheres. Precisamos parar de culpabilizar as mulheres pelas situações de violência sofridas”, completou.

Protesto - Antes do ciclo de debates, participantes do evento, entre as quais a deputada Marília Campos, fizeram um ato de repúdio ao machismo, na entrada do Palácio da Inconfidência.