Moradores do bairro estão divididos entre a possibilidade de revitalizar e trazer mais segurança à região e o impacto urbanístico e natural do empreendimento
Parlamentares defenderam o consenso para resolver o impasse
Flávio Carsalade explicou o projeto do novo hospital

Deputados defendem acordo em impasse sobre Hilton Rocha

Comissão debate paralisação das obras de novo centro oncológico, que divide opiniões no bairro Mangabeiras, em BH.

14/12/2016 - 18:45

A continuidade da construção de um centro de tratamento oncológico nas dependências do antigo Hospital Hilton Rocha, no bairro Mangabeiras, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi defendida nesta quarta-feira (14/12/16) pela maioria dos participantes da audiência pública promovida pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Os ambientalistas são contra o empreendimento e a discussão foi intensa em alguns momentos. Eles têm como aliados os Ministérios Públicos Federal e Estadual, que, juntos, obtiveram uma liminar da Justiça Federal, no início de outubro, que suspendeu a construção, sob os argumentos de que a área é tombada pelo patrimônio e o empreendimento ameaça o meio ambiente da região.

Na ação impetrada, os Ministérios Públicos sustentam que o antigo hospital, hoje em ruínas, foi erguido ilegalmente na década de 1970 graças à intervenção do general Golbery do Couto e Silva, um dos pacientes do famoso oftalmologista mineiro. Os promotores pedem a demolição de todas as edificações e a execução de um projeto de recuperação ambiental.

Os moradores estão divididos entre a possibilidade de revitalizar e trazer mais segurança à região e o grande impacto urbanístico e natural do empreendimento. Alguns pacientes oncológicos e representantes de entidades em defesa desse segmento também foram à audiência e apoiaram a construção do hospital.

Visita - A reunião atendeu a requerimento do presidente da comissão, deputado Arlen Santiago (PTB). Ele é médico e sugeriu uma visita da comissão ao MP para tentar mediar o fim do impasse. Outra sugestão é a possibilidade de credenciamento do futuro hospital para que possa atender também pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

O deputado Antônio Jorge (PPS), outro médico, também defendeu uma solução negociada. “Infelizmente a área já está antropisada e a falta de intervenção vai agravar a degradação”, argumentou.

O deputado Doutor Jean Freire (PT) também pregou o consenso. “Temos de tomar cuidado para não demonizar a questão ambiental”, alertou. Segundo ele, entre as condicionantes poderia ser incluída a oferta de atendimento pelo SUS. “E poderíamos ter um espaço reservado para a educação ambiental”, sugeriu.

União - O diretor-presidente da organização não governamental Ecoavis, Adriano Gomes Peixoto, disse que, em países desenvolvidos, a defesa da saúde e do meio ambiente são complementares. “O hospital é importante, mas não precisa ser naquele local”, afirmou. Ele defendeu a demolição completa da estrutura, deixando no local apenas um pequeno monumento em memória de Hilton Rocha.

Leonardo Almeida, do Movimento das Associações de Moradores de Belo Horizonte, alertou para o risco geológico, que pode ser maior do que o risco ambiental. “A Serra do Curral é apenas uma casca. Atrás da serra há uma cava abandonada da mineração que se transformou em um dos lagos mais profundos do Brasil. Uma obra dessas pode afetar uma estrutura que já é frágil”, questionou.

Projeto promete se integrar à paisagem da Serra do Curral

A audiência foi aberta com uma apresentação do arquiteto Flávio de Lemos Carsalade, ex-presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), que assina o projeto do novo hospital. Na prática, ele ocupará o mesmo conjunto de imóveis da Fundação Hilton Rocha, criada pelo renomado oftalmologista que morreu em 1993.

A crise financeira da fundação resultou em um leilão para quitar as dívidas e o imóvel foi arrematado, em 2009, pelo grupo Oncomed, que promete investir R$ 80 milhões no local. O novo hospital teria 220 leitos, com capacidade para atender 13 mil internações por ano, além de 180 mil exames e 65 mil atendimentos ambulatórios em oncologia, oftalmologia e cardiologia.

Ao longo dos últimos anos, a obra já teve pareceres favoráveis do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural e de órgãos ambientais de Belo Horizonte. Desde então, as tentativas de embargar a obra falharam na Justiça estadual.

Segundo Carsalade, a intenção do projeto foi recuperar um bem histórico de maneira qualificada, já que suas linhas modernistas contrastam com a Serra do Curral. “O imóvel é de um tempo em que não se preocupava muito com impacto ambiental. O projeto traz uma relação com o meio ambiente mais adequada. Nossa estratégia é demolir o que deprecia e construir algo que harmonize melhor com o lugar”, aponta.

Nesse aspecto, segundo ele, apesar de a área construída aumentar de 19 para 39 mil metros quadrados, isso será horizontalmente, com infraestrutura, linhas e acabamento que prometem se misturar à paisagem e minimizar o impacto.

Demora - O diretor da Oncomed, Roberto Porto Fonseca, lamentou que, diante da realidade do atendimento em saúde no Brasil, se demore tanto tempo para autorizar a construção de uma nova unidade de saúde. Segundo ele, estudos da Fundação Biodiversitas asseguraram que os danos ao meio ambiente serão mínimos, já que o empreendimento terá que cumprir 32 medidas compensatórias.

A posição foi reforçada pela presidente da Fundação Biodiversitas, Gláucia Drummond. “Corredores ecológicos não inviabilizam o uso do espaço, desde que seja ordenado”, pondera. Segundo ela, na região, ainda falta conectar os parques da Baleia, das Mangabeiras, do Paredão da Serra e do Rola Moça, todos na Serra do Curral, ação que será facilitada com o cumprimento das condicionantes.

Consulte o resultado da reunião.