Objetivo do fórum é discutir propostas para aprimorar políticas de estímulo a esses empreendimentos
Adriana Ferreira, da UFV, mostra que mortalidade de startups é de 75% em até cinco anos

Criatividade é arma para vencer nos negócios

Fórum técnico startups em MG aborda iniciativas inovadoras para alavancar novos empreendimentos.

23/11/2016 - 20:37 - Atualizado em 24/11/2016 - 11:33

Apesar de não se sentir incluído no segmento de startups, o empresário Luiz Otávio Gonçalves, proprietário do Grupo Vale Verde, fabricante da cachaça de mesmo nome, tem uma receita para a inovação e, consequentemente, o sucesso nos negócios.

“O que move o avanço é a insatisfação. Depois vêm a curiosidade e a criatividade”, receitou ele, acrescentando que no Brasil, onde reina a imprevisibilidade no mundo dos negócios, um grande diferencial do empreendedor é ser criativo.

Luiz Gonçalves participou, nesta quarta-feira (23/11/16), de um dos painéis da etapa final do Fórum Técnico Startups em Minas - A construção de uma nova política. Promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o evento será realizado até esta sexta-feira (25).

O objetivo é discutir propostas para aprimorar políticas de estímulo a esses empreendimentos, especialmente por meio do Projeto de Lei 3.578/16. A proposição, de autoria dos deputados Antônio Carlos Arantes e Dalmo Ribeiro Silva, ambos do PSDB, trata da política estadual de estímulo ao desenvolvimento desse setor.

O empresário mineiro mostrou iniciativas suas que apontam no sentido da inovação e da criatividade. Ele também é proprietário da Nutrinsecta, única empresa da América Latina de insetos para produção de proteína. “Já produzimos 1,5 tonelada pura de proteína de insetos, com um sistema ecologicamente corretíssimo”, comemorou,.

Startups precisam de tratamento diferenciado

O gerente-executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Rafael Ribeiro, reclamou que as regras para abertura e fechamento de empresas não são adequadas para as startups. Segundo ele, esses empreendimentos têm formato diferente das empresas tradicionais, com outra dinâmica e outros prazos de maturação e, por isso, precisam de regras próprias.

Outro problema retratado por ele foi a falta de mão de obra qualificada para atuar no segmento. “Só em Minas Gerais, temos mais de mil vagas abertas em startups sem pessoal adequado para preenchê-las”, afirmou.

Chances de sucesso - Já Adriana Ferreira de Faria, da UFV, destacou estudo da Fundação Dom Cabral sobre a mortalidade das startups no Brasil. Segundo a pesquisa, 75% em até cinco anos. O levantamento aponta ainda que quanto maior o número de sócios, mais chances a startup tem de morrer mais rápido. Por outro lado, quando esse tipo de empresa é sediada em uma aceleradora, incubadora ou parque, a chance de se dissolver é três vezes menor.

Atualmente, de acordo com Adriana Faria, existem no Brasil mais de 10 mil startups, sendo que São Paulo detém 30% delas e Minas Gerais, 9%. Como fatores importantes para garantir a sobrevivência desses negócios, ela citou a boa aceitação do produto e a capacidade de adaptação de seus gestores ao mercado.

Patentes - Tratando de patentes, Gilberto Medeiros, da UFMG, comparou o número de depósitos no Brasil com outros países. Em 2015, foram depositadas nos Estados Unidos 57 mil patentes; na China, 29 mil; e no Brasil, apenas 548.

Outro ponto destacado foi que nesse número norte-americano, a maior parte provém de empresas, enquanto no Brasil as universidades são as grandes responsáveis por patentes. “Conseguimos transformar dinheiro em tecnologia, mas não conseguimos transformar tecnologia em dinheiro”, criticou.

Para Gibram Raul, da Comunidade San Pedro Valley, que reúne startups em Belo Horizonte, está havendo uma aproximação de empresas e universidades com as startups. Isso ocorre, segundo ele, porque as primeiras temem perder as inovações que esses empreendimentos representam; e as universidades querem usá-las como ponte entre o conhecimento e o mercado.

Inovação para enfrentar a crise

O caminho escolhido pelo Governo do Estado para enfrentar a crise passa pela inovação. Esse foi o recado dado pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Miguel Correia. Segundo ele, o governo está investindo em quatro anos R$ 1 bilhão em inovação, com o objetivo de transformar o Estado numa aceleradora de startups.

Um grande passo nessa direção foi dado, conforme o secretário, com a criação do Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (Seed), órgão de apoio às empresas do ramo. Ainda segundo Correia, em dezembro deste ano, o Seed será aperfeiçoado, “com mais musculatura, conexão com a indústria e volume maior de investimentos”.

Deputados apoiam cultura empreendedora

Os deputados elogiaram a iniciativa da ALMG no sentido de valorizar uma cultura empreendedora no Estado. O deputado Antônio Carlos Arantes leu pronunciamento do presidente da ALMG, deputado Adalclever Lopes (PMDB), em que destaca o segundo lugar de Minas no ranking das startups brasileiras. “Precisamos criar um marco legal que estimule esses empreendimentos”, defendeu.

Ao abordar as etapas de construção do Projeto de Lei 3.578/16, o deputado Antônio Carlos Arantes afirmou ter certeza de que será um bom projeto, pois está tendo a participação de todos os envolvidos no segmento de startups. “Criamos o esqueleto da matéria, mas queremos que o recheio seja feito por quem é do setor”. Ele agradeceu a todos os participantes e disse que o projeto não tem oposição, o que facilita sua aprovação mais rapidamente.

O deputado Dalmo Ribeiro Silva disse que o PL 3.578/16 propõe uma lei inovadora para Minas Gerais. E valorizou o fato de que nenhuma outra Assembleia Legislativa do Brasil está fazendo uma discussão aprofundada desse tema.

O deputado Felipe Attiê (PTB) destacou a importância da vinda ao evento de israelenses, referência nesse assunto, para realçar a importância da atuação de empresas que tenham uma visão global de negócio.

Já o deputado Gil Pereira (PP) lembrou que as startups são fundamentais. “Minas Gerais, como um Estado de vanguarda, vai abraçar a tecnologia e a inovação, para fazer avançar nosso desenvolvimento”, considerou.

Israelense aborda pilares para inovação

No primeiro painel do dia, Uri Adoni, membro da JVP Media Quarter, falou sobre a experiência de Israel para desenvolver um sistema iTec, ambiente propício ao desenvolvimento da inovação tecnológica.

Para ele, seis pilares foram necessários para tornar isso uma realidade naquele país: talento, investidores, empresas multinacionais, incentivos governamentais, instituições universitárias e cultura empreendedora. Mais cedo, ele deu entrevista coletiva na ALMG, quando abordou o mesmo tema.