Anualmente são registrados cerca de 10 mil suicídios no Brasil e mais de um milhão no mundo, segundo a ABP
Frederico Garcia explica que predisposição genética, impulsividade, solidão e doença mental entre as condições que podem levar ao suicídio
Ordália Soares se dedica há 20 anos ao Centro de Valorização da Vida

Assembleia de Minas apoia campanha Setembro Amarelo

Palácio da Inconfidência ganha iluminação especial até 18 de setembro, para conscientizar sobre prevenção do suicídio.

09/09/2016 - 11:45 - Atualizado em 12/09/2016 - 13:46

Embora conversar sobre suicídio ainda seja considerado um tabu, especialistas consideram que tratar desse assunto de forma mais aberta seja um passo importante para preveni-lo. Nesse sentido, a campanha Setembro Amarelo, realizada sempre neste mês, tem nesta edição o tema "Falar é a melhor solução". A iniciativa também conta com o reforço da adesão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), pelo segundo ano consecutivo.

Até o dia 18 de setembro, o Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira, no Palácio da Inconfidência, fica iluminado com a cor amarela. A campanha busca conscientizar sobre a importância da prevenção do suicídio, com o objetivo de alertar a população a respeito dessa realidade no Brasil e no mundo.

Desde 2014, locais públicos e particulares que aderem à iniciativa se iluminam com a cor amarela e há ampla divulgação de informações sobre o assunto no período. A escolha do mês se deu porque o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio é lembrado anualmente em 10 de setembro.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), anualmente são registrados cerca de 10 mil suicídios no Brasil e mais de um milhão em todo o mundo. Segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), números oficiais mostram que 32 brasileiros morrem por dia em decorrência disso, taxa superior às vítimas da Aids e da maioria dos tipos de câncer. Já cartilha do Conselho Federal de Medicina (CFM), de 2014, aponta que o Brasil é o oitavo País em número absoluto de suicídios.

Suicídio é morte evitável

Entidades ligadas ao tema ressaltam que é possível reverter esse quadro. Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), nove em cada dez suicídios podem ser prevenidos, pois estão associados a transtornos mentais diagnosticáveis, como a depressão. Dessa forma, comportamentos atrelados a esses transtornos, identificados previamente, podem ser tratados de forma adequada.

É o que também destacou o médico Frederico Garcia, integrante da Associação Mineira de Psiquiatria. De acordo com ele, a campanha Setembro Amarelo reflete sobre essa importante causa de mortalidade, sobre a qual se fala muito pouco por diversos motivos, como a possibilidade de se interpretar como fraqueza do indivíduo ou negligência da família. “Falar sobre o suicídio não causa suicídio. Abordar isso faz com que a pessoa elabore mais o assunto”, afirmou.

Segundo o psiquiatra, esse fenômeno é universal, mas tem prevalência em sociedades mais ricas. Isso ocorre, conforme Garcia, tanto porque há uma organização mais elevada que possibilita o registro dos casos e, portanto, o conhecimento deles, quanto porque nelas há uma tendência ao isolamento. “São sociedades menos coletivistas, em que há menos escuta”, comentou.

O médico enfatizou ainda que o suicídio não decorre de apenas um fator. Entre as condições que podem levar a ele, ressaltou, estão a predisposição genética, impulsividade, solidão e doença mental. Frederico Garcia contou também que a pessoa pode dar alguns sinais de que não está bem, como o isolamento cada vez maior, falta de energia e sonolência.

Ele salientou também que não existe suicídio para apenas chamar atenção. “Qualquer tentativa deve ser entendida como um grito, um pedido de ajuda”, acrescentou.

Centro de Valorização da Vida promove escuta atenta

A importância do apoio emocional, já destacada pelo psiquiatra, também é ressaltada pela voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Belo Horizonte, Ordália Mendes Soares. “Quando uma pessoa recorre ao CVV, ela conversa, desabafa, fala aquilo que não conta nem para os amigos. Dessa forma, ela se ouve e percebe que há sempre uma saída”, salientou.

A entidade, sem fins lucrativos, atende gratuita e voluntariamente a todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, e oferece esse amparo.

Com 70 anos de idade, 20 dedicados ao CVV, Ordália Soares contou que o número de suicídios tem aumentado. Ela relatou que isso pode ser percebido com relação ao público jovem e ao idoso. O momento de crise econômica pelo qual passa o Brasil também pode estar contribuindo, de modo geral, para esse incremento no número de suicídios, de acordo com a voluntária.

Ordália Soares ressaltou também que, no primeiro semestre de 2016, foram atendidas 1.739 pessoas que recorreram à entidade pela primeira vez na Capital. Já os atendimentos repetidos contabilizam mais de 6 mil.

“Com certeza, é possível prevenir o suicídio. O momento em que você percebe que salvou uma vida é muito gratificante”, destacou Ordália Soares, que lembra que teve conhecimento desse trabalho de apoio desenvolvido pelo CVV em 1962, quando ouviu pelo rádio, na fazenda que morava no interior do Estado, notícia sobre a implantação do centro em São Paulo.

Ordália contou que nunca se esqueceu dessa notícia, e que, depois da perda de pessoas queridas por causa do suicídio, ela se inscreveu em curso para ser voluntária do CVV. Isso ocorreu em fevereiro de 1996.

CVV – Contatos com o centro podem ser feitos pelo telefone 141 (24 horas), pessoalmente (nos cerca de 70 postos de atendimento no País) ou pelo site. O posto de Belo Horizonte fica na Rua Desembargador Barcelos, 1.286, no bairro Nova Suissa.

Alguns mitos sobre o suicídio

Quem vive ameaçando se suicidar nunca o faz

Uma pessoa sã não comete suicídio

Quem sobrevive a uma tentativa de suicídio nunca mais tenta novamente

Quem planeja suicídio quer morrer

Nunca se deve perguntar a alguém se ele está pensando em se matar,

porque isso pode provocar essa vontade na pessoa

Fonte: FONTENELLE, Paula. Suicídio: o futuro interrompido.
São Paulo: Geração Editorial, 2008

Doação de órgãos – A ALMG também aderiu à Campanha Brasil Verde de Conscientização sobre Doação de Órgãos e Tecidos. De 24 a 30 deste mês, o Palácio da Inconfidência ficará iluminado na cor verde.