A reunião faz parte de uma série de audiências que vêm sendo realizadas em Contagem, para discutir o transporte público na região
Marília Campos (centro) acredita que a melhoria do sistema municipal de transporte passa pela integração com os ônibus metropolitanos

Moradores de Contagem esperam até quatro horas por ônibus

Em audiência da Comissão de Participação Popular na regional Petrolândia multiplicaram-se queixas sobre irregularidades.

27/04/2016 - 23:41 - Atualizado em 28/04/2016 - 12:22

Para se deslocar do bairro onde mora, Sapucaia 1, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), até a Capital, Salvelina Cecília das Mercês espera em torno de quatro horas, nos dias úteis, pelo ônibus 7710, que liga diversos bairros de Contagem a Belo Horizonte. Nos finais de semana, se necessitar ir à Capital, precisa buscar outras alternativas, porque os ônibus da linha não circulam. A situação vivida rotineiramente por Salvelina é comum a muitos moradores do município, segundo relatos apresentados na noite desta quarta-feira (27/4/16), em audiência pública da Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Convocada a requerimento da presidente da comissão, deputada Marília Campos (PT), a reunião foi realizada na Escola Municipal Paulo César Cunha, no bairro Sapucaia, e faz parte de uma série de reuniões que vem sendo realizadas naquele município da RMBH, por iniciativa da deputada, para discutir transporte público na região com moradores e lideranças comunitárias. Durante a audiência, multiplicaram-se as denúncias sobre a má qualidade dos serviços prestados pela empresa de ônibus São Geraldo, concessionária que atende a regional.

A falta de regularidade nos horários dos ônibus, que circulam superlotados, a má conservação dos veículos, as longas esperas e a carência de ônibus em circulação nos finais de semana foram algumas das principais reclamações. Os participantes denunciaram também o que chamaram de “licitações viciadas” e a falta de segurança nos transportes, e condenaram as tentativas de eliminar a figura do trocador, obrigando o motorista a acumular as duas funções. “Além de atrasar a viagem, coloca em risco os passageiros e aumenta o desemprego”, queixou-se Sebastião Siqueira, morador da região.

Segundo participantes da audiência, uma saída para os inúmeros problemas vividos diariamente pelos usuários de transporte coletivo em Contagem e região seria promover um replanejamento e readequação das linhas, com melhor distribuição das linhas existentes e a implantação de ônibus circulares para fazer ligação bairro a bairro, a baixo custo.

Melhoria do sistema passa pela integração do transporte municipal e metropolitano

Segundo a deputada Marília Campos, presidente da comissão, já foram realizadas várias reuniões, uma em cada regional da cidade, e as reclamações são sempre as mesmas. “Moradores pedem mais linhas, melhor distribuição dos ônibus, integração entre o transporte municipal e metropolitano, garantia do direito de ir e vir e tarifas mais baixas”, disse. “Pela primeira vez estamos fazendo essas reuniões com a presença do Estado e do município, o que é muito importante”, acrescentou a parlamentar.

Para ela, a melhoria do sistema municipal de transporte passa, necessariamente, pela integração com os ônibus metropolitanos. Daí a importância de se manter um canal aberto entre município e Estado, afirmou, destacando que seu papel, como deputada, é intermediar as negociações em busca de soluções. A deputada ressaltou, ainda, que a legislação municipal de Contagem prevê dez anos de concessão de serviços para as empresas operadoras de transporte público, e a atual vai vencer neste ano. Ela avalia que dez anos é um período longo, tempo durante o qual a cidade cresceu muito, as demandas aumentaram, e, por isso, há necessidade de mudanças.

Diante das inúmeras reclamações, a parlamentar informou que vai apresentar dois requerimentos na comissão: o primeiro, a ser encaminhado à Prefeitura de Contagem, para realizar outra licitação, com o estabelecimento de novas regras, de acordo com as reivindicações dos usuários. O segundo requerimento terá por objetivo enviar as notas taquigráficas da reunião, contendo as reivindicações dos moradores, para os diversos órgãos públicos estaduais e municipais aos quais competem o planejamento, execução e fiscalização dos transportes públicos.

Comissão - Outra decisão tomada durante a audiência foi a formação de uma comissão de lideranças comunitárias, moradores e usuários do transporte coletivo, destinada a acompanhar junto aos órgãos públicos as medidas necessárias para a melhoria da qualidade dos serviços de transporte público. “Esse é um dos maiores desafios do governo Pimentel: articular a integração do transporte coletivo e melhorar e baratear esse transporte. O poder público tem que exigir qualidade da empresa concessionária, colocar regra e cobrar”, afirmou a parlamentar.

A superintendente de Transporte Metropolitano da Secretaria de Estado de Transporte e Obras Públicas (Setop), Maílla Virgínia Soares, explicou quais são as atribuições da Setop e quais as atribuições do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG). Ela afirmou que o número de linhas não é necessariamente insuficiente, como acreditam alguns usuários, mas falta otimizar o seu funcionamento, bem como a circulação e distribuição dos ônibus. E admitiu que em cidades grandes uma única modalidade de transportes, no caso, o ônibus, não dá conta da demanda da população. Ela colocou à disposição, para reclamação, os telefones 155, opção 6, do DER, e 3915-8266 (Setop).

O gerente de Fiscalização do DER, Edilson Salatiel, reforçou a importância de que os usuários façam suas reclamações aos órgãos competentes, para que a fiscalização seja mais eficiente. Disse que o órgão conta com um setor de Ouvidoria atuante a que os usuários podem ter acesso por meio do telefone 3235-1601. Ele explicou, também, que desde 2011, por força de lei delegada, a Setop passou a responder pelo planejamento de todas as linhas, cabendo ao DER a fiscalização dos serviços. “O que vai balizar o nosso serviço são as reclamações dos usuários”, disse.

“Tem que se distinguir se não está sendo cumprido o horário ou se o horário estipulado e o itinerário estipulados são inadequados”. Edilson chamou a atenção, também, para que o usuário denuncie todo tipo de comportamento inadequado dos operadores de bordo (trocadores e motoristas) no atendimento ao passageiro, como casos de maus-tratos a idosos. Ele admitiu que é “alarmante” o número de reclamações.

O coordenador de Transporte da Transcon, a autarquia municipal de trânsito e transporte de Contagem, Claudio Vanderlei de Souza, também admitiu que os serviços de transporte público precisam melhorar muito, mas justificou que o crescimento acelerado da cidade e da população contribui para isso. “O sistema não comporta mais o planejamento da forma como foi pensado há dez anos”, disse. Ele defendeu a implantação dos corredores exclusivos para o BRT, como já existe em outras cidades, inclusive Belo Horizonte, como uma alternativa viável para melhorar a situação.

Claudio disse que o sistema concebido para Contagem por R$ 200 milhões, com financiamento do governo federal, está sendo implantado, começando por obras viárias, para permitir a interligação. Segundo ele, várias regionais do município vão contar com terminais de BRT, inclusive a regional Petrolândia, cujo obras já foram iniciadas, com previsão de término em um ano. Ele também defendeu que os usuários façam valer seus direitos dirigindo suas demandas e queixas para a Transcon, por meio do telefone 118, opção 3.

Consulte o resultado da reunião.