Na manhã desta terça (10), também foram abordados problemas com o calendário dos jogos de futebol
Eduardo Conde Tega ressaltou que o futebol brasileiro não compete no mundo globalizado
Gilberto Silva disse que há conflito de interesses quando da organização dos campeonatos

Clubes de futebol querem mais autonomia na gestão

Menor interferência do Estado e modernização das leis do esporte foram defendidas em ciclo de debates nesta terça (10).

10/11/2015 - 14:10

A reestruturação do futebol brasileiro passa por uma menor intervenção do Estado na gestão dos clubes e competições, pela modernização das leis que regem o esporte e por uma melhor partilha dos recursos e investimentos. A conclusão é do superintendente de futebol profissional do Cruzeiro Esporte Clube, Sérgio Santos Rodrigues. Ele e outros especialistas participaram do II Ciclo de Debates Muda Futebol Brasileiro, realizado nesta terça-feira (10/11/15), no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A atividade promoveu, ainda, discussões sobre o que precisa ser feito para melhorar o futebol no País em termos de organização, a importância do investimento nas categorias de base e no esporte amador, o papel da imprensa e a melhor forma de definir o calendário de competições.

Sérgio Santos Rodrigues defendeu, em sua fala, que o sistema do futebol no Brasil deva se sustentar sem a intervenção estatal, tendo em vista que seus principais atores são entidades privadas. Para ele, o mercado se ajusta e o excesso de leis atrapalha a gestão. “Temos que vender o espetáculo e não o jogo em si. Isso já acontece na Europa e nos Estados Unidos com sucesso. Precisamos implantar isso no Brasil”, disse. O gestor ressaltou, ainda, que é necessário promover a competitividade entre os clubes, por meio da partilha mais justa dos investimentos e, assim, equilibrar as disputas. “A divisão igualitária das cotas de TV deve ser implantada logo. Caso contrário, nos próximos anos, apenas Flamengo e Corinthians arrecadarão até R$ 1 bilhão a mais que os demais clubes”, alertou. Em relação à melhoria na gestão dos clubes, pediu, também, a incorporação de estratégias empresariais, com o objetivo de buscar novas formas de arrecadação de receitas e investimentos nas categorias de base.

O diretor Jurídico do Clube Atlético Mineiro, Lásaro Cândido da Cunha, fez coro às palavras do palestrante que o antecedeu ao falar sobre o Programa de Modernização da Gestão Fiscal e de Responsabilidade do Futebol Brasileiro (Profut). A iniciativa promove uma intervenção do Estado nas receitas dos clubes para o pagamento de dívidas históricas com o fisco. Em sua fala, defendeu que os clubes tenham mais autonomia em relação ao Estado, uma vez que a legislação pune os clubes. “Temos dificuldades no refinanciamento das dívidas porque o governo estabelece as regras sem levar em conta a realidade das agremiações”, criticou.

Contraponto – Diante das falas dos gestores dos dois maiores clubes mineiros, o vice-presidente do Tribunal de Justiça Militar, Fernando Galvão, ponderou que o futebol é muito mais que um produto, mas um fenômeno cultural brasileiro. Para tanto, salientou que, por se tratar de algo de interesse social, deve sim ter a intervenção estatal. “Mais que cultural, o futebol é sinônimo de educação. O esporte determina que, para ganhar, é preciso seguir as regras, o que é levado para outras áreas da vida. Então, é impossível não intervir no uso dos recursos públicos em determinadas entidades privadas do futebol”, afirmou. O palestrante entende, então, que não é porque os clubes são entidades privadas, que não devam estar sujeitos às leis brasileiras.

Especialista defende plano para recuperar futebol brasileiro

O diretor executivo da Universidade do Futebol, Eduardo Conde Tega, fez uma palestra, em que destacou a necessidade de um grande debate sobre o esporte no País, tendo como ponto de partida a derrota por 7 a 1 da Seleção Brasileira para a Alemanha, na Copa do Mundo de 2014. Segundo ele, o futebol brasileiro não compete no mundo globalizado e o ambiente, hoje, é ruim para jogadores, treinadores, torcedores, patrocinadores e gestores.

Em sua participação, Eduardo Tega defendeu discussões que contemplem todos os envolvidos e, assim, levem a um diagnóstico que defina o que se quer para o esporte no Brasil. Apresentou, assim, o que chama de plano diretor, que tem como um dos grandes desafios investir na formação e no interesse das crianças pela prática do futebol. Diante desta proposta, citou o exemplo da China, que está se preparando para formar atletas nas escolas; e da Alemanha, que promoveu uma reformulação bem-sucedida nos últimos 15 anos.

Da mesma forma, o representante do Centro de Excelência em Performance do Futebol, Francisco Adolfo Ferreira, disse que o momento do futebol brasileiro é grave. Pediu, então, ações práticas para modernizar o esporte em todos os níveis, entre as quais as relativas à legislação e à gestão de clubes menores, que são formadores de atletas.

Imprensa – O jornalista esportivo, Marcos Guiotti, também defendeu a modernização da estrutura do futebol brasileiro, em especial nos clubes. De acordo com ele, a mídia vem sofrendo com a falta de acesso aos atletas e profissionais do esporte, o que estaria tornando a notícia “engessada” e sem profundidade. Em relação aos orçamentos dos clubes, mostrou-se preocupado com os privilégios financeiros dados a Flamengo e Corinthians e acredita que o mais importante, hoje, é investir nas categorias de base, que irão promover mais benefícios a clube e atletas. “A paixão do torcedor é mal explorada. Temos que aprender com os europeus a vender ingressos, comercializar produtos licenciados e ganhar mais com os programas de sócios”, sugeriu também.

Calendário também é gargalo para clubes e atletas

O ex-jogador Gilberto Silva, que representou o Bom Senso Futebol Clube, falou sobre os problemas do calendário do futebol brasileiro. Segundo ele, há um conflito de interesses quando da organização dos campeonatos, sendo que clubes, Confederação Brasileira de Futebol (CBF), patrocinadores, atletas, torcedores e mídia desejam coisas diferentes e acabam prejudicando o futebol de uma forma geral.

“É preciso definir as prioridades. O que é mais importante: a política, o financeiro ou a questão técnica e mercadológica?”, questionou. O palestrante lamentou que, após os campeonatos estaduais, mais de 16 mil profissionais ficam sem emprego. “A CBF é indiferente diante desse cenário. Eles permitem janelas de tempo no calendário ao longo do ano, que obrigam os clubes a se desmontarem e se desestruturarem”, completou Gilberto Silva.

O diretor da Federação Mineira e Futebol, Paulo Bracks, falou sobre o calendário do futebol mineiro e descreveu as dificuldades da entidade em fomentar o futebol estadual. Para tanto, propôs que os clubes atuem pelo menos três meses durante o ano, para que os atletas não fiquem desempregados a maior parte da temporada; e que os clubes disputem, no mínimo, duas competições e 20 jogos no período.

Parlamentares defendem valorização do futebol amador

O presidente da Comissão de Esporte, Lazer e Juventude, deputado Anselmo José Domingos (PTC), pediu o aprimoramento e a melhoria o futebol, que, para ele, é a maior paixão dos brasileiros. Em sua fala, destacou a dificuldade do futebol amador, que sofre com falta de apoio do poder público, apesar de revelar novos jogadores e retirar jovens das ruas. “Temos que buscar uma política pública para o esporte amador. Mais que isso, precisamos profissionalizar a arbitragem, debater o uso da tecnologia, promover mais investimento nas categorias de base, reorganizar o calendário de competições, modernizar a gestão e lutar contra a corrupção no esporte”, descreveu.

O deputado João Leite (PSDB), ex-goleiro do Atlético Mineiro, também lamentou o enfraquecimento do futebol amador, que, em sua opinião, é a origem da formação dos atletas. Em sua participação, afirmou que o futebol está diretamente ligado à educação, à disciplina e aos bons valores na formação de um jovem, por isso pediu mais discussões sobre o tema em todo o País.

O II Ciclo de Debates Muda Futebol Brasileiro prossegue na tarde deste terça-feira (10), no Plenário da ALMG.