Comissão conheceu as atividades e o modelo de atendimento ofertados à pessoa com deficiência mental e TEA e às suas familias no Censa, em Betim
Segundo Duarte Bechir, além da visita, o trabalho do Censa será discutido em uma audiência na ALMG
Pais elogiam o tratamento que seus filhos recebem no Censa

Censa oferece atendimento de excelência em Betim

Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência visita centro especializado e atesta qualidade do serviço.

31/08/2015 - 19:46

“Censa. Um lugar de ser feliz”. A frase, estampada em um dos vários cartazes expostos logo na entrada do Centro Especializado Nossa Senhora D'Assumpção (Censa), no bairro Jardim Petrópolis, em Betim (RMBH), é de Juliano Otto, uma das 98 pessoas com deficiência atendidas pela instituição. E ela resume bem o trabalho desenvolvido no local, cuja excelência já o transformou em referência no Estado. Foi a necessidade de divulgar e ampliar esse trabalho que levou a Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) a visitar o Censa na tarde desta segunda-feira (31/8/15).

“O Censa é um modelo a ser seguido pelo Estado e pelos municípios. Precisamos dar a oportunidade de acesso a esse tipo de serviço a todas as pessoas que dele precisam. Com nossa visita, além de parabenizar a instituição em sua comemoração de 51 anos de existência, também conhecemos um pouco melhor o trabalho que aqui é feito, que comprova que é possível dar uma resposta positiva tanto para a pessoa com deficiência quanto para suas famílias”, afirmou o deputado Duarte Bechir (PSD), presidente da comissão.

Segundo o parlamentar, além da visita, o trabalho do Censa também será discutido em breve em uma audiência pública na ALMG, cujo objetivo será cobrar do Estado a falta de centros de convivência nos mesmos moldes da instituição. “O Censa mostra que é possível aliar o atendimento em saúde, que muitas vezes a pessoa com deficiência precisa, com educação, lazer, convivência em sociedade - em resumo, com cidadania. E o melhor de tudo é que pudemos comprovar que eles se sentem em casa”, destacou o deputado Duarte Bechir.

O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência foi recebido pela diretora-presidente do Censa, Natália Inês Costa, que fez uma apresentação sobre a história e atividades desenvolvidas no local, mas também pode conversar com pacientes, profissionais e familiares. O deputado percorreu os diversos setores da instituição, como quartos, refeitório, farmácia, dependências administrativas, posto médico e área de lazer.

Nessa caminhada, acompanhou uma animada partida de bocha e assistiu a aulas de equitação, conversando com vários “moradores” do Censa, entre eles Juliano Otto, autor da frase citada no início deste texto, que fez questão de cumprimentar com um aperto de mão e um sorriso largo todos os que acompanhavam o deputado.

Centro foi criado há 51 anos

O Censa foi criado em 1964 pela educadora Ester Assumpção, inicialmente como um local que pudesse abrigar pessoas com deficiência e seus familiares que moravam no interior e até em outros Estados que buscavam atendimento especializado em Belo Horizonte. A ideia deu tão certo que o local logo se transformou em um centro desse tipo de atendimento multiprofissional e transdisciplinar.

A fama do local alcançou até outros Estados e hoje são 98 pessoas de todo o Brasil atendidas por uma equipe de 130 funcionários, em uma área de 22 mil metros quadrados e quatro edifícios, na qual são oferecidas atividades esportivas e recreativas, escolaridade especial, jardinagem, equitação e várias oficinas a jovens e adultos com deficiência intelectual grave e transtorno do espectro autístico (TEA). São indivíduos que apresentam alterações de comportamento mais profundas que, na maioria das vezes, necessitam de uma atenção ininterrupta, o que dificulta sua permanência em casa.

“Partimos do princípio de que a deficiência não é uma doença - é uma condição. Dessa forma, ele não vem aqui para ser curado, e isso implica uma abordagem bem diferente. Muitos só veem as limitações da deficiência. Não dá pra negligenciar essas limitações, pois elas também impactam a vida dos familiares desse indivíduo. Mas aqui queremos ser uma extensão do lar, garimpar o que cada um tem de bom em um ambiente natural de convivência. É por isso que não temos horário de visita. Aqui não é hospital. A família pode vir quando quiser e é sempre muito bem-vinda”, apontou Natália Costa.

De acordo com a diretora, muitas vezes os cuidados necessários com a pessoa com deficiência sobrecarregam os responsáveis ao ponto de desestruturar famílias. Pais negligenciam o cônjuge, os outros filhos, o trabalho, se separam, adoecem ou simplesmente envelhecem, não tendo mais a vitalidade necessária para dar o suporte que esses indivíduos necessitam. É aí que entra o Censa, que para tanto dispõe também de uma completa estrutura de hotelaria.

O problema é que esse tipo de atendimento gera custos que vão de R$ 2,5 mil a até R$ 12 mil mensais para casos mais graves, não sendo oferecido pela rede pública de saúde e de assistência social. Há, inclusive, capacidade ociosa. Com mais investimentos, a instituição, que já teve uma infraestrutura bem maior, inclusive com hospital, poderia atender até 200 pessoas.

Pais apelam à Justiça para bancar custos

Para quem não tem como arcar com as despesas desse tipo de atendimento, a saída, em muitos casos, passa pela chamada judicialização dessa demanda. Cansados de peregrinar pelos vários serviços públicos dispersos, os pais desses pacientes apelam à Justiça e conseguem sentenças que obrigam Estado e municípios a bancar o pagamento do serviço. E esse dinheiro, baseado no relato dos pais, parece ser bem aplicado.

“Por 36 anos, enquanto conseguia, fiz tudo o que eu podia por minha filha. Sou viúvo, tenho 67 anos e desenvolvi osteoporose e enfisema pulmonar. Não tenho mais forças para cuidar dela, que já está com 41 anos”, conta o militar aposentado Fernando Diniz e Silva, pai de outros cinco filhos.

“Há cinco anos trouxe ela para o Censa como se estivesse entregando minha filha a uma mãe. Não me arrependi”, contou Fernando, cheio de chamegos com a filha Valquíria, que aos seis meses contraiu meningite meningocócica, cujas sequelas mudaram a vida de toda a família. “Nunca consegui dar à minha filha o tratamento que ela recebe aqui no Censa. Todas as vezes que chego aqui, ela está impecável e sempre muito feliz”, completou, mostrando orgulhoso até mesmo o esmalte que se destaca nas mãos da filha.

“Aqui é maravilhoso. Foi um milagre na vida do meu filho e na minha, pois já tenho 78 anos, estou doente e sei que não vou viver para sempre. Tentei muitos lugares, mas não davam certo, pois sou muito agarrada a ele. Meu filho não anda, engasga muito, treme o tempo todo. As vezes ele fica muito agitado, se machuca e requer três pessoas para cuidar dele. Mas aqui todos se dedicam de corpo e alma”, elogiou Maria de Lourdes Silva Cardoso, viúva, mãe de Lúcio e de outros quatro filhos.

Preconceito - O problema, segundo Natália Costa, é que essa opção dos pais por uma instituição como o Censa muitas vezes é alvo de preconceito, como se isso representasse ter menos amor, uma desistência de cuidar do familiar. “Os pais criam os filhos para um dia ganharem independência e tomarem para si os rumos de suas próprias vidas. Mas, aos poucos, percebem que isso não vai acontecer. Além da frustração, deixam suas próprias vidas e a dos outros filhos de lado. Para a pessoa com deficiência, também é muito triste ser um peso na vida de alguém. Precisamos trabalhar com a família e com a comunidade, ter uma interlocução que crie opções de vida para essas pessoas”, apontou a presidente do Censa.

Segundo ela, para desenvolver seu trabalho, o Censa precisa de profissionais especializados, de recursos para custear sua infraestrutura e, sobretudo, de legitimidade da sociedade, que precisa entender melhor esse tipo de trabalho. “Esse tipo de atendimento é, na maioria das vezes, invisível às políticas públicas. No passado, esses casos eram levados para hospitais psiquiátricos, sujeitos a todo tipo de influência. Os desafios são muitos, mas não podemos desistir”, apontou Natália Costa.