Os debates na parte da manhã foram comandados pelo presidente da Comissão de Prevenção e Combate ao uso do Crack e outras Drogas, deputado Antônio Jorge
Soraya Romina apresentou dados de um relatório da Junta Internacional de Fiscalização em Entorpecentes

Debatedores defendem trabalho conjunto contra as drogas

Em ciclo de debates, atuação conjunta na prevenção ao uso do álcool e outras drogas é apontada como um dos caminhos.

26/06/2015 - 13:40 - Atualizado em 26/06/2015 - 15:12

A atuação conjunta entre família, escola e governo foi apontada como uma das principais ações de prevenção ao uso de álcool e outras drogas entre os jovens, pelos participantes do Ciclo de Debates Políticas sobre Drogas e a Juventude: Prevenção, o X da Questão, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta sexta-feira (26/6/15). Os debates na parte da manhã foram comandados pelo presidente da Comissão de Prevenção e Combate ao uso do Crack e outras Drogas, deputado Antônio Jorge (PPS), e prosseguem na tarde desta sexta (26).

Uma das ações de prevenção ao uso de drogas adotada pelo Governo do Estado há 17 anos é o Programa Educacional de Resistência às Drogas e Violência (Proerd), que foi apresentado pelo assessor de Prevenção às Drogas da Polícia Militar, major Hudson Matos Ferraz Júnior. Segundo ele, o programa promove a parceria entre família, escola e Estado, levando informações qualificadas aos estudantes para que possam evitar influências negativas. “Olhamos a prevenção do uso da droga a partir da visão da criança e do adolescente”, afirmou.

Nesse sentido, o major explicou que o Proerd atua em várias frentes, já que tem ação de polícia, age com práticas pedagógicas, repassa informações técnicas e, ao mesmo tempo, fortalece o triângulo família, escola e Estado. Além disso, segundo ele, o Proerd ajuda no relacionamento dos jovens com outras pessoas, torna-os mais responsáveis e aprimora o seu desempenho acadêmico. O major Hudson explicou que, ao longo desses 17 anos, já passaram pelo Proerd 2,8 mihões jovens e adultos, e o programa está em 483 municípios mineiros, visitando mais de 3 mil escolas por ano. “O Proerd está presente em todos os rincões do Estado”, afirmou.

A importância do envolvimento de alunos, pais e escola para prevenir o uso das drogas também foi destacado pelo autor do projeto Tô Ligado! e presidente da ONG AboutFace Brasil, Guilherme Correa. Ele também lembrou que, a partir dos 8 anos, as crianças são influenciadas por amigos e pelo meio em que vivem, e é nessa hora que precisam ter referências. Dessa forma, o projeto tem uma equipe multidisciplinar para trabalhar em modelos de comunicação - como games, revistas e cartilhas - em três níveis de atuação: alunos, pais e professores.

Guilherme Correa criticou ainda os gastos governamentais para combater o uso de drogas, que não têm sido eficazes, segundo ele, já que o consumo tem aumentado. “Vão continuar enxugando gelo até quando? Tomara que saiam coisas positivas e práticas daqui para a frente”, cobrou.

Já a consultora de Álcool e Outras Drogas da ONG Viva Rio, Lidiane Toledo, apresentou as ações e programas de prevenção desenvolvidos pela entidade, que trabalha em áreas de conflitos como comunidades e favelas do Rio de Janeiro. Entre os trabalhos desenvolvidos pela entidade, está o que envolve o jovem com a expressão artística. Segundo ela, nas oficinas de artes e música, o jovem consegue expressar seus sentimentos sobre as drogas, que muitas vezes não são bem-sucedidos em consultórios.

Já a psicanalista e professora da PUC Minas, Eliane de Andrade, apontou a importância, para a formação das crianças, da constituição de uma família sólida e de adultos com capacidade de amar. Nesse sentido, para garantir o apoio especializado, ela destacou a necessidade de se trabalhar na prevenção, principalmente com mães viciadas e famílias de novas e variadas configurações.

Palestrantes apresentam experiências voltadas para a prevenção

A coordenadora nacional da Pastoral da Sobriedade, Ana Martins Godoy Pimenta, explicou o trabalho da entidade, que se desdobra em várias linhas de atuação. São elas: prevenção, para quem ainda não experimentou drogas; intervenção, para quem experimenta esporadicamente; recuperação do dependente; reinserção familiar e social.

Segundo a psicóloga e ex-presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil (Junaab), Sandra Lúcia de Oliveira Rodrigues da Silva, cerca de 12% da população brasileira se torna dependente das drogas. Para ela, esse dado pode ser visto como um indicativo da necessidade de enfrentar o problema da dependência química, compreendendo que o usuário dessas substâncias não é uma pessoa com distorções de caráter, mas sim portador de uma doença crônica, progressiva e que, se não for detida, pode matar. Na sua avaliação, apesar do preconceito enfrentado pelos dependentes e do fácil acesso de jovens e menores de idade às substâncias ilícitas, as políticas públicas voltadas para esse problema têm apresentando avanços.

Ela ainda classificou como exitosa a experiência de grupos anônimos que se dedicam a ajudar os dependentes que querem se manter sóbrios. Os Alcoólicos Anônimos, por exemplo, estão presentes em 186 países. “São pessoas que descobriram como lidar com uma doença que é física, mental e social, que mudaram suas vidas e se dispõem a ajudar outras pessoas”, disse.

Falta tratamento adequado para dependentes químicos

A presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas de Belo Horizonte, Soraya Romina, apresentou dados de um relatório da Junta Internacional de Fiscalização em Entorpecentes de 2013, que aponta que em todo o mundo, apenas uma em cada seis pessoas que enfrentam problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas recebe o tratamento adequado.

O mesmo estudo, segundo Soraya mostra que a cada dólar investido em prevenção, os governos de todo o mundo deixam de gastar dez dólares em ações de tratamento e repressão. Na sua avaliação, os dados apontam que faltam recursos e um maior incentivo nas ações de prevenção ao uso de sustâncias químicas.

Ela também destacou a importância de que governos, iniciativa privada, terceiro setor e cidadãos articulem esforços e compartilhem responsabilidades no combate às drogas, conforme previsto na Política Nacional sobre Drogas (Lei Federal 11.343, de 2006). Ao falar sobre a atuação do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas, ela falou sobre a competência que o órgão tem de promover o debate sobre o tema e propor projetos e ações de aprimoramento das políticas públicas para a área. Entre os desafios a serem superados, estão a necessidade de um debate intersetorial e intergovernamental e o fortalecimento das redes de parceria, como forma de prevenir de forma eficaz o uso abusivo de álcool e outras drogas.

Garantia de recursos - Ao final dos debates na parte da manhã, o deputado Antônio Jorge defendeu que o Proerd receba mais recursos para que seja mais eficaz no combate às drogas. "O Proerd não é uma ação orçamentária reconhecida. Precisamos garantir recursos para que ele seja uniformizado”, considerou.

Já a deputada Ione Pinheiro (DEM) chamou atenção para o papel dos pais na prevenção ao uso de drogas. "Temos que ter mais cultura, mais educação e prestar mais atenção em nossos filhos”, disse. Ela acrescentou que no Estado do Rio de Janeiro vai ser instituída a primeira casa para atender às mães usuárias de drogas, uma iniciativa que, na sua avaliação, deve ser um incentivo para que Minas Gerais adote uma prática similar.