A Comissão de Direitos Humanos acompanhou a CPI da Câmara dos Deputados sobre a violência contra jovens negros em visita ao bairro Alto Vera Cruz, em BH
O deputado Cristiano Silveira defendeu um novo modelo de segurança com cidadania

Alto Vera Cruz cobra ações de prevenção da violência

Comissão visitou comunidade em BH para colher relatos sobre violência contra jovens negros.

08/06/2015 - 15:42 - Atualizado em 08/06/2015 - 17:05

Ações preventivas e de ressocialização por parte do Estado foram apontadas por representantes da comunidade do bairro Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte, como fundamentais para o combate à violência contra jovens negros e pobres. Eles participaram de uma reunião na manhã desta segunda-feira (8/6/15), promovida pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência contra Jovens Negros e Pobres da Câmara dos Deputados em parceria com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Para o líder comunitário Warley Fernando, a ação repressiva do Estado é mais presente do que o trabalho preventivo, que, na sua avaliação, passa necessariamente pelo diálogo com a população em condição de maior vulnerabilidade social. O representante do bairro questionou se a população das comunidades se sente, de fato, segura e protegida pelas forças de segurança pública. “O Estado deveria agir como parceiro das pessoas que se disponibilizam a ajudar. Ele deveria ressocializar aqueles que necessitam”, afirmou.

Nesse mesmo sentido, o músico Flávio Renegado criticou o fato de que o “primeiro braço” do Estado nas comunidades é a polícia. “Quando vemos esse tipo de política, refletimos que temos que trazer outros agentes do Estado para dialogar. O Estado atua não na forma de inclusão social, mas tapando buracos”, disse. Renegado também considerou que a população negra tem sido vítima de descaso ao longo dos anos e que a mortalidade nas comunidades é reflexo da falta de ações públicas.

O coordenador da campanha “Amor ao Alto Vera Cruz”, Evandro MC, defendeu uma maior visibilidade para as ações que “fazem a diferença” nas comunidades periféricas, bem como a adoção de ações de combate à violência a partir do ponto de vista preventivo. Evandro MC também criticou o fato de o bairro Alto Vera Cruz ser considerado o mais violento da Capital.

O líder comunitário André Luiz Gomes Lúcio disse ser necessária a adoção de ferramentas que garantam a consecução das políticas públicas para a área de segurança. Ele ainda considerou que os jovens das comunidades precisam de proteção e criticou o investimento organizado na repressão dessas pessoas.

Morte de jovens e negros é vista como fato natural

O presidente da CPI da Câmara dos Deputados, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), lembrou que Minas Gerais tem uma taxa de quase 48 homicídios para cada 100 mil jovens negros. Para o parlamentar, o número pode ser visto como um indício de que há uma naturalização e um silêncio da sociedade diante da morte dessa parcela da população. O parlamentar ainda considera que há uma morte simbólica da sociedade negra, na medida em que o Estado se ausenta das políticas públicas para essa população.

Ainda de acordo com Lopes, considerando-se a população de forma geral, o número de homicídios cai para 22 em cada 100 mil indivíduos. O deputado ainda considerou que o sistema de segurança pública deve não apenas ser de responsabilidade dos Estados, mas também de toda a sociedade.

O parlamentar ainda disse que a CPI da Câmara, instalada em março, trabalha pela constituição de um novo sistema federativo de segurança pública, a partir de um pacto entre todos os poderes de Estado e a constituição de um plano nacional para a redução da violência, que levem em consideração a questão racial e de gênero. Lopes também disse que esse trabalho deve ser conduzido não apenas a partir do ponto de vista da redução da violência, mas também com ações preventivas.

Minas Gerais é o quinto Estado visitado pela comissão, que pretende visitar os Estados com os maiores índices de mortalidade de jovens negros e pobres ou que abriguem casos emblemáticos não solucionados.

A relatora da CPI, deputada Rosângela Gomes (PRB-RJ), considerou que é necessário recuperar a dívida que a sociedade tem com a população negra e pobre. Na avaliação da relatora, a sociedade não consegue enxergar o negro como alguém capaz de ocupar uma condição social e profissional de destaque. “Temos que garantir espaço e dar o exemplo para essa sociedade que não vê perspectivas e que acha que está condenada ao fracasso”, disse a deputada, que ainda defendeu que os negros sejam vistos como iguais.

Banalização - O presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALMG, deputado Cristiano Silveira (PT), considerou que o homicídio da juventude, especialmente a negra, está relacionada com a banalização da vida. Segundo ele, o principal motivo de envolvimento do jovem com o tráfico de drogas não é o dinheiro, mas sim o sentimento de pertencimento a um grupo.

Ele também defendeu que quando a família não se encontra em condições adequadas, o Estado tem o dever de resgatar valores junto aos jovens. O parlamentar ainda defendeu um novo modelo de segurança com cidadania, a partir da inversão da lógica atual, em que o investimento em segurança passa mais pela perspectiva de melhoria das forças policiais do que pela prevenção da criminalidade.

O secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário Miranda, repudiou o discurso da violência e do ódio e defendeu a descriminalização dos conflitos, a partir da criação de políticas públicas e de uma cultura de mediação pacífica de conflitos. O secretário, ao apontar que Minas Gerais foi o Estado que mais encarcerou nos últimos anos, criticou a possibilidade de redução da maioridade penal e classificou como um mito a ideia de que adolescentes infratores não são punidos.

Também estiveram presentes os deputados federais Eros Biondini (PTB-MG), Luiz Couto (PT-PB), Zé Silva (SD-MG) e Delegado Edson Moreira (PTN-MG).