Comissão debateu a crise do setor hoteleiro e de hospedagens em Belo Horizonte, tendo em vista a baixa ocupação com fechamento de alguns empreendimentos
Parlamentares falaram sobre a necessidade de se diagnosticar a situação dos hotéis da Capital

Setor hoteleiro pede investimento em turismo de negócios

Aumento da oferta sem mudanças na demanda teria dado prejuízo a investidores que construíram hotéis em BH.

24/04/2015 - 15:08 - Atualizado em 24/04/2015 - 17:20

Investir para fortalecer o turismo de eventos e negócios em Belo Horizonte é a solução para a crise do setor hoteleiro em Belo Horizonte, segundo os participantes de audiência pública realizada nesta sexta-feira (24/4/15) pela Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Os convidados apontaram, porém, alguns obstáculos nesse caminho e reivindicaram, principalmente, a construção de um grande centro de convenções municipal e a ampliação do Expominas.

Nos últimos dois anos, houve um aumento de 70% do número de quartos disponíveis na Capital, de acordo com a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis - Minas Gerais (ABIH-MG), Patrícia Coutinho. Os novos empreendimentos foram, em sua maioria, beneficiados por uma série de incentivos oferecido pela Lei municipal 9.952, de 2010, e por facilitações oferecidas pela prefeitura. Foram, de acordo com Coutinho, 83 alvarás de construção nos últimos dois anos e hoje teríamos 13.500 quartos disponíveis. O aumento da oferta teria reduzido em 30% a taxa de ocupação.

A representante da ABIH destacou que a queda nessa taxa de ocupação já levou ao fechamento de alguns hotéis em 2015 e à demissão de centenas de funcionários. Coutinho apresentou uma série de sugestões para amenizar a crise do setor. Enquadrar os hotéis como indústria e, assim, oferecer um regime especial de cobrança de ICMS sobre luz e água foi uma das sugestões. Ela também pediu isenção de impostos municipais, como ISS e IPTU, em alguns casos. Outra sugestão é para que seja suspensa até 2020 a construção de novas unidades hoteleiras. Por fim, ela falou da importância da criação de uma política de atração de eventos para Belo Horizonte.

Participantes pedem melhorias em centros de convenção

Vários dos convidados enfatizaram a importância de se fomentar esse turismo de eventos e negócios em Belo Horizonte e destacaram as vantagens da cidade para esse tipo de turismo. A centralidade na região Sudeste, que é a mais rica do País, e vantagens em relação a trânsito e preços em comparação a São Paulo e Rio de Janeiro, cidades que atualmente mais recebem esse tipo de turista no Brasil, foram os principais pontos levantados.

“O turista de negócios gasta três vezes mais do que o turista a lazer, está aí a nossa oportunidade”, disse o presidente em exercício do Belo Horizonte Convention & Visitors Bureau, Anderson Souza Rocha. “A queda na taxa de ocupação dos hotéis só pode ser revertida com o turismo de negócios”, completou. De acordo com ele, desde a fundação em 1997, o Convention & Visitors Bureau já apoiou 487 eventos, 79 deles internacionais, e trouxe 2,5 milhões de pessoas à cidade.

Os participantes, porém, criticaram os espaços para eventos de Belo Horizonte e salientaram que é preciso construir um espaço grande e moderno. “Desde 2006, esperamos que se cumpra a promessa de um novo centro municipal de convenções. Também continuamos aguardando a expansão do Expominas – e nem a reforma depois do incêndio foi terminada ainda”, afirmou Anderson Rocha.

Fernando Viana Cabral, presidente da Companhia Mineira de Promoções (Prominas), que administra locais como o Minascentro e o Expominas, disse que a manutenção desses espaços gera um custo fixo de R$ 16,5 milhões. Segundo ele, os lugares precisam urgentemente de reforma. “Encontramos a casa sucateada, as cortinas estão podres, o chão desgastado – e a aparência é a primeira coisa que se olha quando se vai alugar um espaço para evento”, disse. Ele também criticou a licitação atual para a ampliação do Expominas, que inclui a construção de um hotel e de um shopping, o que, para ele, a iniciativa privada pode fazer por conta própria.

Mudanças no cenário econômico são citadas por convidados

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz Camargos, disse que o País está vivendo uma crise econômica e que isso prejudica o turismo de negócios. Ainda assim, ele disse que é preciso buscar atrair eventos nacionais e internacionais para a cidade a partir da construção de novos centros de convenção. “Sempre reclamou-se da falta de hotéis, agora temos uma grande massa de hotéis e precisamos transformar isso em oportunidade”, disse.

O presidente da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), Mauro Guimarães Werkema, defendeu o incentivo dado pela prefeitura para construção de hotéis. “Tínhamos outro clima no País e em Minas Gerais. Era um clima de otimismo, de crescimento, de Copa das Confederações, de Copa do Mundo”, disse. Para ele, houve uma mudança brusca nesse clima, principalmente no que diz respeito aos cenários político e econômico, o que não poderia ter sido previsto e acabou prejudicando o setor.

Werkema, porém, se disse otimista e disse que o momento ruim será superado a médio prazo. “Temos um aeroporto que está saindo de 2 milhões de aterrissagens por ano para 10 milhões, temos uma cidade que é central no mapa e ainda é polo para setores como moda e tecnologia da informação. O momento é difícil, mas quem sobreviver vai se beneficiar”, afirmou.

Turismo local – Alguns dos presentes também salientaram a necessidade de incentivar o turismo local, principalmente atraindo os moradores do interior para a Capital. O deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB) destacou que, para isso, é importante investir no sistema viário e lembrou que a comissão deve realizar em breve uma audiência pública sobre a rodovia MG-050 no Sul de Minas Gerais – o requerimento para tal audiência foi aprovado na reunião de hoje.

O deputado Roberto Andrade (PTN) disse que é preciso fazer um diagnóstico mais apurado da situação dos hotéis e aproveitar melhor as oportunidades de turismo. Ele citou o exemplo do município de Tiradentes, que tem um acervo histórico menor do que o de Ouro Preto e, ainda assim, consegue atrair muito mais turistas.

O deputado Geraldo Pimenta (PCdoB), por sua vez, criticou o choque de gestão do governo anterior, que unificou as secretarias de Turismo e de Esporte. “Em quatro anos, perdemos um terço da mão de obra do turismo lá na secretaria, isso prejudicou muito o setor”, disse, lembrando que a atual gestão já separou de novo as duas secretarias.

Consulte o resultado da reunião.