Documentário da TV Assembleia vence prêmio nacional

Produção sobre episódio em Governador Valadares que antecedeu o golpe de 1964 ganha o Prêmio Vladimir Herzog.

01/10/2014 - 19:07

O documentário Na Lei ou na Marra: 1964, um combate antes do golpe, da TV Assembleia, venceu o 36º Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na categoria documentário de TV. Um dos mais prestigiados do País, o prêmio é organizado pelo Instituto Vladimir Herzog, pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), entre outras entidades.

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A escolha dos vencedores nas nove categorias em disputa, assim como os trabalhos que receberam menção honrosa, foi anunciada na última terça-feira (30/9/14), em São Paulo (SP). A cerimônia da premiação acontecerá no dia 29 de outubro no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Tuca). O documentário foi exibido pela primeira vez no último dia 31 de março, como parte de uma extensa programação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para lembrar os 50 anos do golpe de 1964.

A repercussão da conquista do prêmio fez o documentário voltar à programação da TV Assembleia. Ele será exibido nesta quarta-feira (1º/10), à meia-noite; na próxima segunda-feira (6), às 20 horas; e na quinta-feira (9), às 21 horas.

Segundo o diretor da TV Assembleia, Rodrigo Lucena, o prêmio, inédito na historia da instituição, é um reconhecimento pela criatividade, dedicação e esforço de toda a equipe, que competiu com grandes veículos de comunicação de todo o Brasil. “O documentário é um produto diferenciado da TV Assembleia, resultado da coragem de nossa equipe em arriscar um formato novo e do entusiasmo para superar todas as dificuldades”, destaca. De acordo com ele, o projeto “Narrativas”, inaugurado pelo documentário premiado, é um novo gênero na grade de programação da TV Assembleia que terá sequência com pelo menos duas produções por ano.

Programa é resultado de trabalho em equipe

A equipe que coordenou a produção do documentário é formada por Priscila Dionízio, Marcos Barreto, Erick Araújo, Tatiane Fontes e Leandro Matosinhos. Também foi mobilizada boa parte da equipe técnica da TV Assembleia. “Foi um trabalho coletivo, com todos se revezando nas funções. Essa química deu certo e cada um tem um pedacinho desse sucesso”, define Marcos Barreto, produtor da TV Assembleia. Segundo ele, a primeira ideia da criação de um documentário surgiu em setembro do ano passado e, após muitas discussões sobre seu formato, o trabalho de produção começou em novembro, se estendendo até março, quando foi finalizado.

Nesse caminho, dificuldades foram superadas e deram mais valor ao prêmio conquistado agora. Entre elas está a localização de um personagem central da trama, o ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Governador Valadares (Vale do Rio Doce), Francisco Raymundo da Paixão, o “Chicão”, que ainda hoje prefere manter seu paradeiro no anonimato. A equipe da TV Assembleia também conseguiu levar de volta a Valadares o jornalista Carlos Olavo da Cunha Pereira, fundador do jornal “O Combate”, que reviveu os lances históricos vividos às vésperas do golpe militar que deram forma ao documentário.

Documentário resgata episódio pouco conhecido

O documentário conta como, em 30 de março de 1964, milícias lideradas por fazendeiros de Governador Valadares atacaram o sindicato e a sede do jornal, que apoiava a luta dos lavradores pela reforma agrária. O fato foi emblemático na escalada de tensões que antecederam o golpe e na onda de perseguições que se estendeu com a tomada do poder pelos militares, situação que se repetiu em diversas regiões do País. Dessa forma, o episódio, ainda pouco conhecido e divulgado pela história oficial, é narrado no documentário por seus principais líderes.

O conflito no Vale do Rio Doce refletiu a atmosfera de tensão político-social no campo em todo o País na década de 1960. Foi uma época de protestos e marchas organizados por associações, sindicatos e ligas dos camponeses e violenta reação dos latifundiários às propostas de reforma agrária anunciadas pelo presidente João Goulart. O documentário traz ainda o olhar de historiadores sobre a violência dos conflitos agrários que sacudiram a região, com uma linguagem, na visão de Marcos Barreto, mais “arejada”.

“A região de Governador Valadares era estratégica por ser uma das últimas fronteiras agrícolas do País. O Chicão chegou a ser recebido por João Goulart, defensor da reforma agrária. Da mesma forma, as lideranças dos fazendeiros da região também procuraram Carlos Lacerda (governador do Rio de Janeiro e um dos principais expoentes da oposição que apoiou o golpe de 1964). A tensão era crescente por todo o País e essa história ocorrida aqui em Minas ilustra bem o panorama da época”, aponta Marcos Barreto.