Assassinato na Serra do Cipó traz insegurança aos moradores
Apesar de estatísticas indicarem que a criminalidade está caindo, episódio prejudicou o turismo na região.
28/03/2014 - 19:24Após o assassinato de Alexandre Werneck, servidor da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), e sua namorada, Lívia Viggiano, no início deste ano, na Serra do Cipó, a sensação de insegurança na região cresceu. Os depoimentos dos participantes de audiência da Comissão de Segurança Pública realizada nesta sexta-feira (28/3/14) em Santana do Riacho comprovam esse fato.
A intenção dos criminosos era roubar o carro do casal, que acabou abandonado na região, após ser incendiado. Durante as investigações, a Polícia Civil prendeu Helton Moreira de Castro e Marcos Magno Faria, suspeitos que teriam confessado o crime. A dupla foi indiciada pelos crimes de latrocínio (roubo seguido de morte), estupro e ocultação de cadáver. Segundo a polícia, foram roubados os celulares e R$ 170 do casal.
Em seu pronunciamento, o deputado Carlos Pimenta (PDT), que solicitou a reunião, lembrou que o acontecimento trouxe muita preocupação à comunidade da região, um dos pontos turísticos mais importantes do Estado. “Isso afeta toda a economia local, formada principalmente por pousadas e hotéis, e pelas atividades indiretamente ligadas ao turismo”, afirmou.
O parlamentar também requisitou reforços para o efetivo da polícia local, obras de infraestrutura, como a construção de uma ponte e um projeto de mobilidade urbana que interligue os municípios da região. Ele cobrou, ainda, uma solução efetiva para os problemas da rede elétrica de Santana do Riacho. "A falta de energia é um entrave para o desenvolvimento e influencia diretamente na segurança pública”, disse.
A crescente violência no Estado e no País também foi abordada pelo deputado Gustavo Valadares (PSDB). “Essa talvez seja a maior reivindicação da população brasileira”, comentou. Ele creditou o problema ao Código Penal brasileiro, em sua opinião, defasado, e à consequente certeza de impunidade dos criminosos. O parlamentar ainda solicitou um posto policial no quilômetro 93 da rodovia MG-10. “A rodovia corta municípios com realidades muito diferentes. Um posto de controle no local é essencial para limitar a circulação de pessoas inescrupulosas”, argumentou.
O deputado João Leite (PSDB) reclamou do excesso de responsabilidade conferida às prefeituras para o controle da violência. “Os Estados são responsáveis por 87% do que é investido em segurança no País, enquanto o Governo Federal arca com apenas 13%”, informou. “Minas Gerais tem 95 mil presos, e o Estado não recebe nenhum repasse federal para a guarda desses presos. Saem do caixa do Executivo estadual R$ 180 milhões por mês para bancar os presidiários”, concluiu.
Estatísticas apontam redução da criminalidade
A prefeitura de Santana do Riacho e o comando da polícia local ponderaram que as estatísticas em relação aos crimes no município contradizem essa sensação de violência crescente. Todos foram unânimes em apontar a ampla divulgação do assassinato de Alexandre Werneck como principal causa para o espanto da população.
“O assassinato foi um fato isolado. Na imprensa falou-se apenas do crime da Serra no Cipó como um todo, generalizando”, afirmou o prefeito de Santana do Riacho, André Ferreira Torres. “Queremos desmitificar a ideia de que o município e a região convivem com crimes desse porte. A violência é um problema nacional”, complementou o secretário municipal de Turismo e Meio Ambiente de Santana do Riacho, Gustavo Campos.
“A sensação de insegurança é maior do que a insegurança propriamente dita”, salientou o comandante da 3ª Região da Polícia Militar, coronel Alexandre Alves. Segundo o policial, as estatísticas indicam que houve uma redução de 20% nos crimes não-violentos. Em relação àqueles violentos, comprovou-se até mesmo a não-ocorrência de alguns deles no último ano. “Nem sempre as ações da polícia são vistas, pois acontecem na calada da noite, enquanto as pessoas estão descansando com suas famílias”, destacou. De acordo com a Polícia Militar, a média de assassinatos no município é de um por ano e não há registro de roubo desde o início do ano passado.
Apesar de defenderem que a violência não é o problema que se imagina na região, os representantes da prefeitura de Santana do Riacho e da polícia presentes à reunião fizeram coro às reivindicações de mais investimentos no setor de segurança na região da Serra do Cipó. Também acredito que a instalação de um posto policial na MG-10 vai nos auxiliar bastante. Precisamos formar parcerias com as polícias e os municípios vizinhos para enfrentar os gargalos da segurança”, afirmou o prefeito André Ferreira Torres.
O coronel Alexandre Alves informou que 1.950 policiais já estão em treinamento na Academia de Polícia Militar em Belo Horizonte. De acordo com ele, parte desse efetivo será destinada à região. Quanto à instalação do posto policial, o comandante ponderou que é preciso uma análise criteriosa para avaliar se a simples presença de policiais no local vai trazer benefícios, já que até o momento a corporação não possui profissionais suficientes para suprir a demanda.
Por fim, o coronel assegurou que ações de controle de pessoas alcoolizadas e inabilitadas na MG-10, um dos principais problemas apontados pela população, serão realizadas de maneira mais ostensiva. O delegado regional de Santa Luzia, Christian Nunes, que tem alguns municípios da região entre aqueles de sua jurisdição, destacou a necessidade de maior contingente e logística para a corporação. “Da forma como está hoje, chega ao absurdo de um investigador ter que se deslocar até 250 quilômetros para atender a uma demanda”, exclamou.
Falhas na energia elétrica também causam transtorno
Outra queixa apresentada pela população foi em relação ao fornecimento de energia elétrica. O vereador de Santana do Riacho José Ferreira da Silva, o Zezinho, resumiu as preocupações dos cidadãos. “A energia está cada vez pior. Pousadas e hotéis estão sofrendo com o problema. No carnaval, muitos turistas pediram o estorno de suas estadias e foram embora, deixando um enorme prejuízo para o setor”, contou.
O vereador afirmou, ainda, que a falta de energia não é um privilégio dos empresários que investem no turismo, mas de toda a população, que chega a ficar quase 24 horas sem eletricidade. O engenheiro de Comercialização da Cemig, Ronaldo Rezende, prometeu novos investimentos e procurou tranquilizar a população.
“Para equalizar o serviço, estamos trabalhando em cima de três pilares: manutenção preventiva, redução das áreas de exposição e aumento das fontes de alimentação. Para isso, já construímos uma subestação em Jabuticatubas, que possui capacidade para fornecer energia para toda a região. A questão agora é finalizar a instalação de alimentadoras, que transportarão essa energia a todas as localidades. O investimento total será de aproximadamente R$ 30 milhões”, informou.