A determinação de que escolas especiais e regulares tenham o mesmo tratamento foi um dos avanços destacados do estatuto
Liza Prado informou que pretende aprovar requerimento de audiências públicas regionalizadas

Interior quer debater Estatuto da Pessoa com Deficiência

Gestores municipais pediram, em audiência pública, nesta segunda (24), que a discussão seja estendida a outras regiões.

24/02/2014 - 14:56

Representantes de associações ligadas à pessoa com deficiência, do Governo do Estado e da sociedade civil, além de vereadores de Belo Horizonte e Montes Claros (Norte de Minas), solicitaram à Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que o debate sobre o Projeto de Lei (PL) 4.254/13, da deputada Liza Prado (Pros), que institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência, seja feito também no interior. O pedido foi feito em audiência pública realizada nesta segunda-feira (24/2/14), a requerimento da autora da proposição, que também é presidente da comissão.

Os vereadores de Montes Claros, Valcir Soares e Rodrigo Oliveira, foram os principais defensores do debate em outras cidades mineiras. Para eles, o estatuto representará um avanço na defesa da pessoa com deficiência, mas precisa ser amadurecido por meio das experiências vividas em todas as regiões. Eles defenderam, também, que o principal foco das normativas deve estar voltado para a acessibilidade. “De nada adianta termos escolas, transporte e educação de qualidade, se as cidades não oferecerem acesso a esses locais”, ponderou.

A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Belo Horizonte, Gilmara Morais, reforçou as palavras dos parlamentares de que a discussão deve ser ampliada para outras cidades. Para tanto, sugeriu que seja feito um levantamento de todos os municípios que possuem conselhos, para que possam promover esses debates.

Prazo – O vereador de Belo Horizonte Leonardo Mattos defendeu que o estatuto deve ser debatido com todos os envolvidos, mas alertou que é preciso estabelecer um prazo para que o documento seja concluído. Para ele, é preciso que as normas sejam plausíveis, aplicáveis e realmente saiam do papel. “É um instrumento que pode auxiliar o Poder Judiciário, em especial no que se refere às questões educacionais e de perdas de direitos por questões de renda familiar”, destacou.

Sobre o ponto de vista jurídico, a advogada e assessora parlamentar Mara Pires lembrou que o estatuto representa uma norma que reconhece um grupo que precisa de um tratamento diferenciado, que garanta igualdade de direitos.

Defensor público aponta avanços e sugere alterações

A determinação de que as escolas especiais e regulares tenham o mesmo tratamento por parte do Estado foi o principal avanço destacado pelo representante da Defensoria Especial do Idoso e da Pessoa com Deficiência, Estevão Machado. Em sua análise, exaltou a previsão de medidas protetoras contra violência e maus-tratos a estas pessoas e a criação de um fundo estadual para políticas e programas voltadas às pessoas com deficiência. “O documento deve ser amadurecido. Sugiro, por exemplo, que sejam incluídas normas que introduzam o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) na grade curricular do Estado, a criação de centros de referência e o combate à aprovação automática, que não respeita o tempo de aprendizado do aluno”, disse.

Assistencialismo – A presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conped), Kátia Ferraz, lembrou que o estatuto não pode ser tratado somente como um instrumento de proteção, mas de inclusão. Para ela, o objetivo não é criar algo assistencialista, e sim de igualdade de direitos. “Queremos acessibilidade, capacitação profissional e preparação para lidar com a legislação vigente”, pediu. A mãe de criança com síndrome de Down, Consuelo Ferreira, lamentou, ainda, ser preciso debater a garantia de direitos já assegurados na Constituição Federal.

Estado pede consenso para que estatuto seja aplicável

A representante da Secretaria de Estado de Educação, Soraya de Siqueira, afirmou que ainda não há um ponto comum para que sejam estabelecidas as melhores políticas públicas para a pessoa com deficiência. Ela fez coro a outros debatedores, ao afirmar que a discussão deve ser levada para interior do Estado, para que as conclusões sejam maduras e palpáveis.

Em resposta a questionamentos feitos durante a audiência, ela disse que não há previsão para o fechamento de escolas especiais e lamentou que, apesar da capacitação de professores, a alta rotatividade prejudica a continuidade do trabalho. “Ainda há muito a ser feito, mas é preciso admitir que a inclusão de alunos especiais é recente em Minas e, ao contrário do que tem sido dito, a aprovação automática não é uma realidade, tendo em vista que esses estudantes têm 50% de flexibilidade do currículo”, explicou. Na prática, segundo ela, se a grade é de nove anos, o aluno pode ser formar em 13 anos.

A coordenadora dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Belo Horizonte, Maria Cristina Abreu, pediu um maior envolvimento das secretarias de Estado e municipais nas normativas do estatuto e adequações ao texto original do PL 4.254/13.

Ao final, a deputada Liza Prado disse que pretende aprovar requerimento para realização de audiências públicas regionalizadas para debater o estatuto. Afirmou, também, que vai encaminhar uma recomendação às empresas fabricantes de ônibus e às concessionárias de transporte público para o cumprimento do prazo estabelecido no Decreto 5.292/2004, que obriga a acessibilidade em 100% da frota.

Além disso, disse que vai solicitar informação às escolas especiais sobre como é realizado o PDI para os alunos com deficiência. "Queremos, ainda, formar um grupo para estudar e sugerir medidas para o aprimoramento do projeto que cria o estatuto", concluiu.

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