A reunião, requerida pelo deputado Durval Ângelo, contou também com a presença de diversas personalidades envolvidas na elucidação do caso
Ivo Patarra contou que o governador de Minas determinou que a polícia verifique seus arquivos
Wadih Damous acrescentou que, até hoje, há 200 brasileiros desaparecidos durante o regime militar

Comissão busca novos elementos para elucidar morte de JK

Análise de fragmento metálico encontrado na cabeça do motorista do ex-presidente pode confirmar hipótese de atentado.

16/10/2013 - 13:19

Na busca do esclarecimento definitivo das circunstâncias da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, a Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo aguarda autorização judicial para que seja feita uma nova análise no crânio do motorista Geraldo Ribeiro. A informação é do assessor da comissão, o jornalista Ivo Patarra. Ele participou, nesta quarta-feira (16/10/13), de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A reunião, requerida pelo deputado Durval Ângelo (PT), contou também com a presença de diversas personalidades envolvidas na elucidação desse caso. A versão oficial sustenta que Juscelino e seu motorista morreram em um acidente de carro em 22 de agosto de 1976 no km 167 da Via Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Familiares e militantes de direitos humanos, no entanto, não têm dúvida de que se tratou de um atentado praticado pelo regime militar que governou o País entre 1964 e 1985.

Um dos principais indícios de que o ex-presidente e seu motorista foram assassinados é um fragmento metálico no crânio de Geraldo Ribeiro, descoberto na primeira exumação realizada em 15 de agosto de 1986. Na ocasião, os peritos disseram que se tratava do prego do caixão, mas essa justificativa foi recebida, nas palavras do jornalista Luiz Carlos Bernardes, como uma “piada de mau gosto”.

Segundo Ivo Patarra, o governador Antonio Anastasia determinou que a Polícia Civil de Minas Gerais faça uma varredura em seus arquivos para localizar esse fragmento metálico, que pode ser a chave para a elucidação do caso. A Comissão da Verdade afirma que o motorista perdeu o controle do veículo em que viajava com Juscelino porque levou um tiro na cabeça. Patarra narrou o que se passou em seguida: o carro seguiu desgovernado pela rodovia, passou de raspão por um ônibus pela direita e bateu de frente com um caminhão que seguia no sentido oposto.

Suborno – Em recente depoimento à Comissão da Verdade, o motorista do ônibus, Josias de Oliveira, teria confessado que foi procurado por emissários da então polícia secreta brasileira, o Serviço Nacional de Informações (SNI), e recebeu duas malas de dinheiro para assumir a culpa pelo suposto acidente. Mas, oito dos nove passageiros do ônibus foram ouvidos e garantiram que o motorista dirigia de forma prudente e dentro da velocidade permitida, lembrou o presidente do Museu Casa de Juscelino, Serafim Melo Jardim. Somente um, que havia entrado no veículo uma hora antes da ocorrência, citou o excesso de velocidade e imprudência do condutor.

Ivo Patarra apresentou outros elementos para sustentar a hipótese de assassinato. Segundo ele, Juscelino tinha uma reunião com generais marcada para o dia 25 de agosto de 1976, três dias depois de sua morte. O jornalista acredita que esse encontro tenha sido abreviado para o dia 22, atraindo o ex-presidente para uma cilada. Isso porque a reunião foi no Hotel-Fazenda Villaforte, de propriedade de um dos fundadores do SNI e amigo do então ministro-chefe da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva. Juscelino ficou no local por uma hora e meia e morreu dois minutos e meio depois de sair de lá.

Também presente à audiência pública na Assembleia Legislativa, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais (OAB-MG), William dos Santos, citou que, 20 dias antes da morte de Juscelino, espalhou-se pelo País um boato de que ele estaria desaparecido e possivelmente morto. Segundo Santos, o objetivo era medir o grau de reação popular a essa notícia, uma vez que o ex-presidente ainda era visto como uma importante liderança nacional e admirado internacionalmente. Como não houve comoção popular significativa, os militares se sentiram mais seguros para prosseguir com o plano de matar Juscelino, completou.

Deputado diz que Juscelino era ameaça à ditadura

O deputado Durval Ângelo classificou a ditadura militar de 1964 como um período de negação total dos direitos humanos no Brasil. Em seus 20 anos de duração, muitas lideranças sofreram prisões, tortura e assassinatos. A morte de Juscelino Kubitschek foi um desses casos, disse Durval. “Ele percebeu o que significava o golpe, e sua liderança nacional representava uma ameaça para o regime autoritário”, explicou.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB, Wadih Nemer Damous Filho, acrescentou que, até hoje, há 200 brasileiros desaparecidos durante o regime militar, sem que se saiba quem os matou e a mando de quem. “Muitos episódios ainda precisam de resposta. Enquanto elas não vierem, a democracia brasileira não vai se consolidar”, disse ele.

O deputado Rogério Correia (PT) aproveitou a presença dos integrantes da OAB para pedir apoio à criação do Memorial dos Direitos Humanos, projeto de sua autoria, que deve ser instalado no prédio da antiga sede do Departamento de Operações Especiais (Deoesp), em Belo Horizonte. A audiência pública contou ainda com representantes da Comissão da Verdade da OAB-MG e da Comissão da Verdade do Estado de Minas Gerais.

Consulte o resultado da reunião.