Na reunião, foi destacado o importante papel da população no combate ao aumento da incidência da doença
Mauro Teixeira disse que é importante insistir em um sistema efetivo de educação
Segundo Geane Andrade, 85% dos focos de dengue estão nos imóveis particulares

Dengue zero é uma meta inviável

Alerta foi feito em audiência nesta terça (15), quando foram apresentadas tecnologias para conter o avanço da doença.

15/10/2013 - 20:12

Para o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mauro Martins Teixeira, a erradicação da doença é uma meta inalcançável, mas os casos de morte podem ser evitados. O alerta foi feito, nesta terça-feira (15/10/13), em audiência pública da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A reunião foi solicitada pelo presidente da comissão, deputado Paulo Lamac (PT).

“Dengue zero é uma meta inviável”, anunciou o professor. De acordo com ele, pelo próprio ciclo natural da doença, haverá outra epidemia daqui a três ou quatro anos no Estado. “O que temos que buscar é a mortalidade zero”, afirmou Teixeira, que considera as ocorrências de morte por dengue uma falha no diagnóstico ou no encaminhamento do caso. Segundo ele, haverá vacina daqui a décadas, mas até lá o poder público deve se preparar para lidar com a doença.

Segundo ele, a participação da população no controle da doença é essencial, mas não se pode responsabilizar o cidadão pela proliferação da dengue. O professor disse que é importante insistir em um sistema efetivo e permanente de educação e que a questão não pode ser politizada. Acrescentou ainda que os gestores públicos devem estar abertos às novas tecnologias de contenção da dengue.

Uma dessas alternativas foi apresentada pelo biólogo e também professor da UFMG, Álvaro Eduardo Eiras. Ele falou sobre a utilização de armadilhas que coletam o inseto adulto, que é aquele que transmite a doença. Segundo ele, a tecnologia tem caráter preventivo e deve ser considerada uma ferramenta de informação para que o poder público tome as medidas que vão efetivamente controlar a incidência da dengue.

O biólogo explicou que, após a coleta, os insetos são enviados para análise a fim de verificar se estão ou não infectados, o que é feito semanalmente. Ele afirmou que os dados obtidos permitem conformar uma “fotografia do município”, apontando as potenciais infestações da doença em tempo hábil. “Os resultados têm demonstrado que a tecnologia está funcionando. Capacitamos agentes de saúde para utilizá-la e a tecnologia já pode ser encontrada em mais de 50 municípios brasileiros e quatro outros países”, ressaltou Eiras.

Já o diretor da Ecovec, Gustavo Moreira, disse que os produtos da empresa de biotecnologia auxiliam na prevenção da dengue, mas que a Ecovec, em geral, eles são procurados apenas nos picos da epidemia. Segundo ele, tecnologias como o Dengue Report podem pautar ações de controle da doença. Moreira explicou que o software de coleta de dados é utilizado nos procedimentos de rotina pelos agentes de saúde.

“O produto é capaz de armazenar e processar, em tempo real, informações coletadas em campo e disponibilizá-las em forma de relatórios estatísticos e análises para consulta imediata, o que não acontece quando os dados são transcritos em formulários de papel, que levam até 120 dias para serem registrados”, salientou o diretor, que ainda ponderou que, dessa forma, o sistema permite a reorientação do trabalho de controle.

Alternativas como a homeopatia ainda não têm aceitação

Para o médico homeopata João Márcio Berto, os gestores públicos geralmente têm rejeitado uma opção barata e eficiente de combater a doença: a homeopatia. Para ele, a alegação de que são necessárias evidências científicas da eficácia do tratamento homeopático para que o uso seja permitido tem inviabilizado a própria aferição dessa eficiência. Por isso, ele solicitou a intervenção da comissão para obter recursos do Estado a fim de efetuar pesquisas sobre o uso da homeopatia nos casos de dengue. Cláudia Santos, também médica homeopata, reforçou o pedido.

Outro projeto que busca o reconhecimento do poder público é o prato anti-dengue. O restaurador Roberto Luiz de Lima, inventor do produto, disse que a tecnologia foi recusada porque não possui validação científica. Ele explicou que o prato tem um sistema que faz com que a água dos vasos de plantas não fique estancada no recipiente, considerado um dos criadouros do mosquito.

Gestores cobram participação da população no combate à dengue

Para o presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais, Mauro Guimarães Junqueira, se a população não cumprir seu papel no combate à doença, as ações dos governos não vão conseguir conter o avanço da dengue. Ele disse que 80% dos focos se encontram nas residências.

A coordenadora do Programa Estadual de Dengue, Geane Aparecida de Almeida Andrade, também defendeu a mobilização dos cidadãos para evitar novas epidemias. De acordo com ela, este ano foi o pior, com 307 mil casos já confirmados no Estado. Ela afirmou que, na verdade, 85% dos focos estão nos imóveis e que seus responsáveis ou proprietários deveriam agir para que os mosquitos não possam se multiplicar.

Geane atribuiu o atual cenário também ao processo eleitoral de 2012, quando, segundo ela, houve a desmobilização das prefeituras justamente no período que antecede o verão, estação de maior ocorrência da doença. Para o próximo ano, ela anunciou que já está estruturado um plano estratégico, com atuação em 28 regionais com comitês para controle da dengue. Os municípios vão elaborar planos de contingência que serão articulados com o plano do próprio Estado.

De acordo com a representante da Prefeitura de Belo Horizonte, Maria Tereza da Costa Oliveira, as ações de comunicação devem ser contínuas e o foco das ações na Capital será a atenção ao paciente. Ela contou que já foram obtidas mais máquinas para exames de sangue e que o município tem realizado por ano 3 milhões de vistorias.

Agentes de saúde - Os representantes de entidades sindicais dos agentes de saúde que atuam na orientação junto à população defenderam a criação de carreira específica para esses profissionais. Eles reclamaram ainda das inúmeras dificuldades para entrar nas casas para fazer as vistorias, tanto nas áreas nobres quanto nas de risco. “Os agentes são contratados em condições diversas e estão sempre à mercê das mudanças de governo. Muitos são demitidos após as eleições”, salientou o coordenador do Sind-Saúde, Renato Barros.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) enfatizou as considerações dos representantes dos agentes de saúde, que, para ele, são as figuras mais importantes no combate à dengue. “A regulamentação desses profissionais se faz necessária, de fato, pois isso dará estabilidade e condições financeiras para trabalharem com segurança e eficiência”, ressaltou o parlamentar.

Consulte o resultado da reunião.