Economia criativa abre novos desafios e perspectivas
Setores ligados ao turismo discutem em audiência o conceito de economia criativa e as formas de incentivo ao setor.
08/10/2013 - 20:09Já existe, por parte da academia, uma definição clara do que é economia criativa? Qual a sua abrangência? De que atividades, especialidades, saberes e fazeres estamos falando? As indagações, propostas pelo presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Estrada Real, Eberhard Hans Aichinger, resumem, em grande parte, as preocupações dos participantes da audiência pública promovida na tarde desta terça-feira (8/10/13) pela Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Na ocasião, eles debateram os desafios e perspectivas do setor, sob a ótica de vários segmentos, entre eles a gastronomia, o design, as artes e o patrimônio histórico.
Convocada a requerimento do presidente da comissão, deputado Gustavo Perrella (Solidariedade - SDD), com a finalidade de debater a qualificação profissional e a economia criativa e seus impactos no turismo do Estado, a audiência deu continuidade a um debate iniciado há cerca de três meses no âmbito da comissão, em parceria com o projeto Minas Criativa, da Secretaria de Estado de Turismo. O encontro reuniu profissionais e representantes de diversas entidades e organizações governamentais e não governamentais ligadas ao setor turístico.
Um conceito ainda em construção
Embora entendam que o conceito de economia criativa ainda esteja em construção, estudiosos afirmam que ele se refere a atividades ligadas à produção e comercialização de produtos e serviços em 14 áreas da economia, como gastronomia, moda, artesanato, música, design, produções audiovisuais, entre outras. Sua base é a utilização do capital intelectual e da criatividade, bem como o conhecimento técnico.
A professora Ana Flávia Machado, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), editora da revista Nova Economia, destacou o dinamismo do setor e a sua importância como gerador de emprego e renda e como alternativa para as famílias carentes. Observou, porém, que 70% da mão de obra empregada na economia criativa é formada por trabalhadores autônomos e que 70% dos municípios brasileiros detêm algum tipo de especialidade em economia criativa. Por isso, ressaltou a necessidade de qualificar e capacitar esses agentes.
Especialista educacional do Senac, Hans Eberhard Aichinger também destacou o problema da informalidade no setor, ressaltando que, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, quase 60% da alimentação fora do lar vive da informalidade.
Informalidade é desafio a ser superado
A gerente do projeto Minas Criativa, da Secretaria de Estado de Turismo, Marina Pacheco Simião, também admitiu que a informalidade é uma realidade do setor, mas acrescentou que também é uma realidade a necessidade e o desejo de aprender por parte de muitas pessoas que sobrevivem no ramo. “Precisamos identificar os gargalos, superar os desafios e alcançar as possibilidades de articulação para melhor sanarmos os problemas”, disse. E ressaltou que o primeiro segmento a ser destacado pelo projeto é o da gastronomia, considerando a riqueza e a pluralidade da culinária mineira.
Outros participantes da reunião destacaram desafios como a superação de dificuldades de comercialização e de protagonismo num mercado dominado por produtos industrializados e massificados. “Ser regional é mais difícil do que ser internacional”, observou o coordenador do curso de Gastronomia da Faculdade Estácio de Sá, Danilo Simões Coelho. Ele afirmou que os proprietários de restaurantes regionais têm muito mais dificuldade de encontrar fornecedores de produtos típicos do Estado e do País do que os que comercializam pratos da cozinha internacional. E defendeu, como alternativa, a organização em cooperativas, para comercialização dos chamados produtos ecossociais.
O coordenador de Projetos nas Áreas de Turismo e Economia Criativa da Fundação João Pinheiro, Nelson Quadros Vieira Filho, defendeu investimentos não só ao longo de toda a cadeia produtiva, com vistas ao consumo final, mas também na cadeia de processos e trabalho de cada produto. O diretor de Promoção e Extensão Cultural da Fundação de Artes de Ouro Preto (Faop), Celmar Ataídes Júnior, observou que a vocação turística de Minas Gerais se ampara tanto no seu patrimônio material como no imaterial.
Também presente à reunião, o representante do Fórum da Música de Minas Gerais e criador do Coral das Lavadeiras do Vale do Jequitinhonha, Carlos Farias, elogiou a iniciativa da comissão de debater a economia criativa e propôs que a comissão inclua o segmento da música no debate. Em resposta, o deputado Gustavo Perrella manifestou apoio à proposta e colocou a comissão à disposição para incorporar novas sugestões. Ele afirmou que a cada reunião vem se surpreendendo com o nível do debate e as novas ideias que surgem.
O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) também elogiou o trabalho desenvolvido pelos participantes da reunião. Natural de Ouro Fino (Sul do Estado), o parlamentar disse que a região é rica em atividades culturais e gastronômicas, citando, como exemplo, o Festival de Música Sertaneja, que há 32 anos se realiza na cidade no primeiro sábado de maio, data em que é realizado também o festival de gastronomia da colônia italiana. Falando sobre o potencial turístico do Sul de Minas, ele citou ainda o tradicional pé-de-moleque de Piranguinho, fabricado há mais de 50 anos e já transformado em patrimônio do Estado, a Festa do Milho em Borda da Mata e o festival de gastronomia de Passa Quatro, entre outras festividades.