Com o Teatro lotado, o objetivo da reunião foi debater o aumento salarial para o funcionalismo público do Estado e sua política remuneratória
Beatriz Cerqueira (à dir.) criticou a ausência da secretária de Estado Renata Vilhena, representada por Helga Gonçalves (à esq.)

Servidores do Estado criticam política salarial do governo

Insatisfeitos, sindicatos pressionam por piso salarial em audiência da Comissão de Administração Pública.

08/10/2013 - 19:54

Representantes de diversos sindicatos de servidores do Estado reivindicaram o pagamento de piso salarial e criticaram fortemente a política salarial e o plano de carreiras da categoria durante audiência da Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta terça-feira (8/10/13). Com o Teatro lotado, a reunião, requerida pelo deputado Rogério Correia (PT), teve a finalidade de debater o aumento salarial para o funcionalismo público do Estado e sua política remuneratória.

Depois do anúncio de reajuste de 5% para os professores, os demais servidores públicos questionaram o “reajuste zero” anunciado pelo Governo do Estado para as demais categorias. Na reunião, foi consenso entre os representantes sindicais a união das várias categorias em torno de uma agenda comum, contemplando questões como o plano de carreiras, a data-base em janeiro (como determina a lei federal) e críticas ao não-cumprimento de acordos por parte do Poder Executivo.

“As necessidades são muitas. Compreendemos que o que está sendo recebido é aquém do esperado, mas muito está sendo feito pelas carreiras. Temos em 2013 todos os 480 mil servidores ativos beneficiados com a política remuneratória”, afirmou a assessora chefe de Relações Sindicais da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, Helga Gonçalves.

Sindicatos criticam falta de diálogo com o Executivo

Para a coordenadora-geral do Sindicato dos Trabalhadores na Educação (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira, ao propor a data-base de servidores da categoria para outubro, o governo deixa de cumprir a lei federal, que determina a data-base em janeiro. Assim como outros servidores, ela também ficou incomodada com a ausência da secretária de Estado de Planejamento e Gestão Renata Vilhena. Essa atitude, para a sindicalista, é a tônica do atual governo. “Encaminhamos 17 itens relacionados à carreira e à política salarial. O Executivo estadual não atendeu nenhum”, questionou ainda.

Beatriz Cerqueira também atacou o plano de carreiras do servidor. Ela disse que em 2004 ele era baseado em promoção e progressão, no entanto, em 2011, tudo foi congelado. “Ninguém progride nem vai ser promovido”, afirmou.

A diretora do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público (Sindpúblicos), Anita Fernandes Tocafundo, que representou os servidores do sistema prisional e socioeducativo, disse que o governo não cumpre o que fala. “É a política do 'se vira'. Se quer ser professor, se vira. Se quer socializar o menor infrator, se vira. E estamos nos virando, com a infraestrutura que nos oferecem”, reclamou. Ela observou que, antes, havia de 30 a 40 unidades prisionais. Hoje, são 160. “Isso é reflexo de não-investimento em educação. Além disso, nossos servidores estão doentes e as unidades estão superlotadas. Não podemos aceitar esse tratamento desumano”, completou.

“Há 50 anos, o professor ganhava o mesmo que um promotor. Hoje há uma grande diferença. Como a sociedade deixa isso acontecer?”, perguntou Paulo Carvalho, representante do Sind-Saúde. Em sua opinião, o plano de carreira não pode ser discutido junto com a data-base. “Se não tivermos resposta do governo sobre esse e outros pontos, vamos unificar nossas lutas”, alertou.

Para Sindifisco, discussão é política, e não técnica

O presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais (Sindifisco), Lindolfo Fernandes de Castro, disse que queria mostrar um outro olhar sobre a administração e as finanças públicas do Estado. “Somos contra a política remuneratória porque ela é instrumento de arrocho salrial e nega direitos dos servidores”, avaliou. Para o sindicalista, quando o governo quer resolver um problema, tem de onde tirar recursos. Nesse contexto, a discussão não é técnica, mas política, na sua avaliação. “Temos que fazer uma disputa no orçamento, é uma luta entre o capital e o trabalho”, comentou.

O coordenador da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais (Asthemg), Carlos Augusto dos Passos Martins, frisou que a grande questão é o diálogo com o governo. “Ontem paralisamos hospitais da Rede Fhemig por 12 horas em protesto contra o aumento zero e o descumprimento dos acordos. Infelizmente prejudicamos a sociedade, mas isso é a forma de diálogo com o governo. É o diálogo na rua, já que o Executivo não valoriza o servidor”, afirmou.

Já a presidente do Sindicato dos Servidores do Instituto de Previdência do Estado (Sisipsemg), Maria Abadia de Souza, observou que nenhuma categoria está satisfeita com a carreira. “O plano de carreira não foi discutido com a categoria. Ele chegou pronto e foi aprovado na Assembleia. Não conseguimos mudar praticamente nada”, disse. Maria Abadia também lembrou que não se pode confundir plano de carreira com data-base, que são duas coisas diferentes.

“Nós, servidores do Ipsemg, estamos massacrados. Estamos há 13 anos sem concurso público. O Ipsemg tem que melhorar o atendimento, mas para isso precisa de mais servidores”, ressaltou a presidente do Sisipsemg.

Deputados avaliam situação do funcionalismo

Após todas as falas, o deputado Rogério Correia constatou a discordância geral entre os servidores com a política salarial que vem sendo adotada no Estado. Para o parlamentar, os sindicatos devem se unir para dar uma resposta coletiva à proposta de reajuste zero do governo.

“Que o governo possa ver a insatisfação que está no meio dos servidores com a política anunciada”, disse Correia. Ele avisou que, se o governo não negociar com sindicatos, a oposição na ALMG irá obstruir o projeto de lei que regulamentará o reajuste. Em sua opinião, Minas não foi capaz de fazer planejamento de crescimento e investimento. “Isso não pode ser descontado nas costas do servidor público como tem sido feito desde 2003. É um modelo neoliberal que está em crise em todo o mundo”, disse.

O deputado Elismar Prado (PT) ponderou que o sofrimento do servidor mineiro já vem de longa data. “Temos a Minas real e a fictícia. Nós, que acompanhamos a execução orçamentária, verificamos que muitos programas do governo investem mais em publicidade do que no próprio programa. Esse reajuste salarial de 5% é vexatório”, ressaltou.

“Quem, em sã consciência, vai discordar que quer um servidor valorizado?”, perguntou o deputado Leonardo Moreira (PSDB). "Mas não se pode anunciar algo que não se possa cumprir”, completou o parlamentar. Ele questionou as críticas dos participantes da audiência em relação à presença da assessora da Seplag no lugar da secretária da pasta.

Na plateia, os participantes erguiam cartazes pedindo o piso salarial ou questionando o destino de R$ 8 bilhões que, segundo eles, deveriam ser aplicados na educação. Diante dessas reivindicações, o deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB) disse que o salário do funcionalismo público no Brasil é injusto, e ponderou, por outro lado, que o Estado tem que lidar com problemas como a guerra fiscal e o pagamento da dívida com a União.

O deputado Gustavo Corrêa (DEM), que presidiu a reunião, lamentou os problemas relacionados com o salário do funcionalismo, mas destacou que esse problema é antigo, e não do atual governo.

Consulte o resultado da reunião.