Adilza Dode apresentou mapeamento de taxa mortalidade de pessoas que vivem próximas a antenas de transmissão na Capital e sua relação com os tipos de câncer
A pesquisadora citou exemplos de experimentos realizados na Alemanha e Israel que confirmam a tese

Estudo aponta que uso de telefone celular causa câncer

Especialista apresenta à CPI da Telefonia tese de doutorado e pesquisas internacionais.

02/10/2013 - 13:18 - Atualizado em 02/10/2013 - 17:57

A engenheira e pesquisadora da MRE Engenharia, Adilza Condessa Dode, garantiu, por meio de sua tese de doutorado, defendida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que o uso contínuo de telefone celular e a exposição à radiação das antenas causam diversos tipos de câncer e tumores. A afirmação foi feita na reunião desta quarta-feira (2/10/13) da CPI da Telefonia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A pesquisadora foi convidada a requerimento da deputada Liza Prado (PSB).

Em sua tese de doutorado, publicada em 2011, a engenheira fez um recorte, entre os anos de 1996 e 2006, em algumas regiões de Belo Horizonte, com o objetivo de mapear a taxa de mortalidade das pessoas que vivem próximas a antenas de transmissão e sua relação com as neoplasias (tipos de câncer). No estudo, ela concluiu que quase metade dos óbitos registrados no período em razão de tipos de câncer reconhecidos na literatura científica foram em locais com distância de até 100 metros das antenas. “Desafio qualquer empresa de telefonia a provar o contrário. A taxa de mortalidade é diretamente proporcional à proximidade com estações de transmissão”, assegurou.

Em sua apresentação aos deputados, Adilza Condessa Dode defendeu que o Estado precisa ter uma legislação mais restritiva quanto aos limites de radiação exposta sobre os seres humanos. Ela destacou que na Suíça, por exemplo, os níveis exigidos são 150 vezes menores que no Brasil, e nem por isso há queda de qualidade no atendimento. “Isso tem que vir a público. Os brasileiros estão muito mais expostos que outros países desenvolvidos”, lamentou.

Pesquisas internacionais embasam tese

Adilza Condessa Dode afirmou que seu trabalho de doutorado foi baseado em outros estudos desenvolvidos pelo mundo. Ela citou exemplos de experimentos realizados na Alemanha e em Israel que confirmariam a tese de que a exposição à radiação provocada por celulares e antenas de transmissão é prejudicial à saúde humana.

Entres as conclusões dessas pesquisas, estão o aumento nos casos de leucemia entre crianças, tumores cerebrais, danos aos sistemas neurológico e imunológico, câncer de mama, aborto e efeitos cardiológicos. “O cérebro absorve cerca de 60% da radiação emitida, e a comunidade científica já admite o risco de quase 200 tipos de câncer causados por esse contato”, alertou.

Desafio – A pesquisadora disse que a descrença das pessoas, aliada à forte influência da indústria internacional de telefonia móvel, é o grande desafio para que a legislação mude. Ela comparou essa dificuldade à situação enfrentada pelos cientistas na década de 1950, quando defendiam os males do tabaco ao organismo humano. “Nos próximos anos, iremos observar os impactos globais nos índices de tumores e câncer. É fundamental que a legislação mude para que a exposição à radiação em locais como residências, hospitais e creches, por exemplo, seja reduzida”, pediu.

Parlamentares defendem sensibilização do Governo Federal

O deputado Sargento Rodrigues (PDT) afirmou que, de posse do estudo da engenheira, que comprova os riscos do uso do celular para a saúde das pessoas, a comissão irá inserir as informações em seu relatório final e pedir que a União provoque mudanças nas leis brasileiras. “Temos que refletir sobre o problema e sensibilizar o Governo Federal para que, por meio do SUS, crie cartilhas e outros métodos educativos para a população”, disse. O deputado quer, ainda, que seja elaborado um projeto de lei, com o intuito pedagógico, também no âmbito do Estado.

A deputada Liza Prado reforçou as palavas do colega e lamentou que o lobby praticado pelas operadoras de telefonia, no Brasil, retarda e até impede que a legislação seja aperfeiçoada. Para ela, é preciso que as pessoas também levem a sério os resultados do estudo. “Ainda há quem deboche desse tipo de informação. É possível ter tecnologia sem prejuízo à saúde, mas a sociedade deve se mobilizar para que esta realidade mude o quanto antes”, concluiu.

Consulte o resultado da reunião.