Ciclistas participam do evento Massa Crítica em Belo Horizonte. Mobilidade urbana sustentável compreende também a utilização de bicicletas
Caminhadas também são alternativas saudáveis ao transporte convencional
Para o deputado Célio Moreira, falta incentivo para os ciclistas
Ciclistas se reúnem com frequência semanal, quinzenal ou mensal em Belo Horizonte para andar pela cidade e divulgar a prática
Pedala BH estuda onde e melhor forma de implantar ciclovias na Capital

Bicicletas são alternativa ao transporte motorizado

Na Capital, grupos usam o modal e acreditam que ele pode contribuir para a solução dos problemas da mobilidade urbana.

Por Ana Flávia Ferreira Junqueira
25/04/2013 - 08:00

Odion Vanni de Queiroz usa a bicicleta como meio de transporte para se deslocar para o trabalho diariamente. Marcos Barroso Resende vai para o trabalho todos os dias fazendo caminhadas. Essas duas opções de deslocamento surgem como alternativas ao transporte motorizado neste momento em que a mobilidade urbana é o grande desafio das cidades contemporâneas. São formas ambientalmente corretas, saudáveis e baratas.

O Fórum Técnico Mobilidade Urbana – Construindo Cidades Inteligentes, em formatação pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a ser realizado a partir deste semestre, trata também dessa questão que integra a chamada mobilidade urbana sustentável. A ALMG também está produzindo uma série de matérias sobre o assunto.

Queiroz mora no bairro Sion e trabalha do Santo Agostinho, em Belo Horizonte. Há dois anos, ele optou por usar a bicicleta. “É um momento em que aproveito para fazer uma atividade física. Outras formas de deslocamento podem gerar estresse. Sinto que, ao andar de bicicleta, chego mais disposto ao trabalho. Além disso, minha decisão também foi motivada pela dificuldade de encontrar vagas para estacionar o carro”, relata.

Resende trabalha na Gerência de Análise Legislativa da Cemig, na Capital. Mora no bairro Gutierrez e trabalha no Santo Agostinho. Há oito anos, ele percorre o trajeto de 12 quarteirões a pé para chegar ao trabalho, onde tem disponível uma vaga de garagem para estacionar seu veículo. Mesmo assim, ele prefere essa opção. "Adoro caminhar. É mais saudável. Além disso, se utilizasse o carro para ir ao trabalho, demoraria mais a chegar. Penso também que pegar o veículo para ir sozinho teria um impacto negativo na questão da mobilidade", afirma.

Segundo o portal Mobilize Brasil, a opção pelo automóvel, que parecia ser a resposta eficiente do século XX à necessidade de circulação, levou à paralisia do trânsito, além dos problemas ambientais de poluição atmosférica e de ocupação do espaço público. O portal mostra que, no Brasil, a frota de automóveis e motocicletas teve crescimento de 400% nos últimos dez anos.

Diante disso, emerge a necessidade de se buscar a mobilidade urbana sustentável. De acordo com o Mobilize Brasil, o conceito é amplo e envolve a implantação de sistemas sobre trilhos, ônibus "limpos", com integração a ciclovias, esteiras rolantes, elevadores de grande capacidade. Além disso, contempla soluções inovadoras, como os sistemas de bicicletas públicas implantados em Copenhague, Paris, Barcelona, Bogotá, Boston e várias outras cidades. E, também, calçadas confortáveis, niveladas, sem buracos e obstáculos.

Identificação - O presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALMG, deputado Célio Moreira (PSDB), ressalta que, no Brasil, de modo geral, falta uma maior identificação entre a população e a bicicleta, como acontece em outros países, onde o modal está no centro de importantes eventos. “Aqui, além da falta de incentivo, a violência do trânsito acaba sendo um desestímulo ao seu uso. O ideal é que o poder público privilegie o ciclismo construindo ciclovias e promova também eventos esportivos aproximando a população da prática do ciclismo, num contexto ecológico”, salienta.

O Ministério do Meio Ambiente afirma que o padrão de mobilidade centrado no transporte motorizado individual mostra-se insustentável, tanto no que se refere à proteção ambiental quanto no atendimento das necessidades de deslocamento que caracterizam a vida urbana. O aumento da capacidade viária, segundo informações do Ministério, estimula o uso do carro e gera novos congestionamentos, alimentando um ciclo vicioso responsável pela degradação da qualidade do ar, aquecimento global e comprometimento da qualidade de vida nas cidades. Isso significa aumento nos níveis de ruídos, perda de tempo, degradação do espaço público, atropelamentos e estresse.

Vantagens – O uso de bicicletas e as caminhadas trazem benefícios como a redução significativa dos gases poluentes em meio urbano e dos ruídos nas cidades. Encorajar esse tipo de mobilidade favorece a diminuição da poluição sonora, pois tanto as bicicletas quanto o andar a pé não emitem o ruído produzido pelos veículos com motor de combustão convencionais.

Outra vantagem são os benefícios para a saúde. Ao substituir deslocamentos em veículos por modos ativos, em que é exigido algum esforço físico do utilizador, há melhorias quanto ao bem-estar físico e à saúde das pessoas que adotaram essa forma.

Grupos de ciclistas divulgam prática na Capital mineira

São diversos os grupos de ciclistas que utilizam a bicicleta como meio de transporte em Belo Horizonte e que creem que são capazes, a partir dessa decisão, de trazer contribuições para os problemas da mobilidade urbana na Capital. Massa Crítica, RUTs, Le Vélo, Minas Riders, Pedal dos Rôia, MTB Barreiro, Pedal da Madruga, Zoobiker, Pedal de Salto Alto, entre outros, são exemplos de grupos que se reúnem com frequência semanal, quinzenal ou mensal para andar pela cidade e divulgar a prática. Apesar disso, a Pesquisa Origem e Destino 2001-2002, a mais recente realizada pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), mostra que a quantidade de deslocamentos feitos por bicicletas na cidade ainda é irrisória, em torno de 1,2%.

Guilherme Lara Camargos Tampieri, voluntário da BH em Ciclo (Associação de Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte) e do Movimento Nossa BH, utiliza a bicicleta como principal modal de transporte há sete anos. Com 24 anos, ele conta que também anda a pé e utiliza o transporte coletivo para uma porcentagem menor de deslocamentos. “Se eu pudesse quantificar, diria que 90% dos meus deslocamentos são feitos de bicicleta e os outros 10% ficam divididos entre ônibus e a pé. Raramente pego alguma carona”, afirma.

Em relação às dificuldades para a massificação do uso da bicicleta em Belo Horizonte, Tampieri justifica que o fato se dá, principalmente, pela falta de educação dos motoristas. Segundo ele, o aumento diário da frota de veículos resulta em mais congestionamentos e torna o trânsito mais violento, o que desencoraja as pessoas a pedalar. “Assim, onde não há educação e bom senso dos motoristas, não há proteção para os ciclistas”, relata.

Ciclovias – A BHTrans criou o programa Pedala BH, que atualmente faz parte do Plano de Mobilidade da Capital, com o objetivo de promover o uso da bicicleta. Para isso, o programa implanta rotas cicloviárias e estacionamentos para bicicletas, além de campanhas de educação e de segurança no trânsito. O programa identificou 380 quilômetros de rotas possíveis de se implantar ciclovias em Belo Horizonte, e a meta é chegar a esse número até 2020. Com isso, a empresa espera que 6% de todos os deslocamentos da Capital se deem por meio do uso da bicicleta. Atualmente, são 51,3 quilômetros de áreas para ciclistas, contando com projeto de sinalização cicloviária compartilhada no interior do Parque Ecológico da Pampulha.

De acordo com a BHTrans, em 2013, há previsão de implantação de mais 26 rotas, incluindo as das avenidas Clóvis Salgado, Olegário Maciel, Barbacena, Carandaí, Teresa Cristina, Olinto Meireles, Dom João VI, Saramenha, além da MG-020, que irão totalizar outros 20,5 quilômetros de ciclovias.

Foram investidos pela prefeitura, entre 2011 e 2012, R$ 3 milhões em novas rotas e projetos, além de um contrato vigente de R$ 3 milhões para novas implantações.

Tampieri faz algumas considerações ao Pedala BH. De acordo com ele, o primeiro problema decorre do fato de que o programa não foi elaborado com a participação dos ciclistas da cidade. Outro problema apontado é que não houve estudo de demanda para se averiguar trajetos de ciclistas pela Capital. “Essas ciclovias não apenas foram feitas sem levar em consideração a opinião dos ciclistas, mas também sem considerar padrões mínimos de segurança estabelecidos”, disse.

Grupo de trabalho – Por causa dessas discordâncias, foi criado, no fim do ano passado, o Grupo de Trabalho Pedala BH. Segundo Tampieri, o grupo, do qual a BH em Ciclo faz parte, chegou à conclusão de que nenhuma ciclovia seria feita em Belo Horizonte sem consultar os ciclistas. A BHTrans firmou um compromisso de, posteriormente, rever as ciclovias que apresentaram algum problema e interrompeu as ordens de serviço para que haja entendimento com os ciclistas.

Confira as ciclovias em Belo Horizonte:

Rota

Trajeto

Nordeste

Av. Risoleta Neves (conexão da estação BHBus São Gabriel à Ciclovia existente na av. Saramenha). Extensão: 2,20km

Savassi

Rua Prof. Morais / av. Bernardo Monteiro / av. Carandaí / rua Piauí. Extensão: 2,80 km

Américo Vespúcio

Entre Av. Antônio Carlos e Av. Carlos Luz - Extensão: 2,20 km

Leste

Av. dos Andradas / av. Itaituba / rua Lassance (fará a ligação da região Leste à região central e Savassi, conectando-se à ciclovia Rota Savassi). Concluído 1 Km entre avenidas Silviano Brandão e Itaituba. Extensão: 4,85 km / Obra em andamento.

Boulevard Arrudas

Entre rua dos Carijós e av. Barbacena. Extensão: 1 km

Barreiro

Liga a avenida do Canal ao Via Shopping, na região do Barreiro. Extensão: 2,20 km

João Pinheiro

Extensão 1 Km

Noroeste/Pampulha

Av. João XXIII, entre avenidas Presidente Tancredo Neves e Abílio Machado. Extensão: 1,6 km

Tancredo Neves

Av. Presidente Tancredo Neves entre av. Dom Pedro II/Anel Rodoviário e av. João XXIII. Extensão: 600 metros

Fernandes Tourinho

Rua Antônio de Albuquerque, rua Levindo Lopes, rua Fernandes Tourinho (até a Rio de Janeiro). Extensão: 1,3 km

Rio de Janeiro

Entre ruas Fernandes Tourinho e Alvarenga Peixoto; rua Alvarenga Peixoto, entre Rio de Janeiro e São Paulo; rua São Paulo, entre Alvarenga Peixoto e av. Álvares Cabral; av. Álvares Cabral, entre São Paulo e Rio de Janeiro; rua Rio de Janeiro, entre Álvares Cabral e av. Augusto de Lima. Extensão: 1,9 km

Fleming

Av. Fleming entre av. Otacílio Negrão de Lima e rua Sena Madureira. Extensão: 1,79 km

Bicicletários

Quatro em operação nas Estações BHBUS Barreiro, Venda Nova, São Gabriel e Diamante. Devem ser implantados novos bicicletários em outras estações.

Paraciclos

Em 2011 foram implantadas 52 unidades, junto às rotas cicloviárias existentes e em implantação. Com isso, foram criadas 104 vagas de estacionamento para bicicletas na regiões da Savassi, Hospitalar, Central, Nordeste, Barreiro, Noroeste e Leste.

Fonte: BHTrans

A próxima matéria da série sobre a mobilidade urbana será publicada na segunda-feira (29).