Maria de Lourdes Barreto Silva, que perdeu a filha em acidente, luta para evitar outras tragédias no trânsito

Valadares encerra Siga Vivo com histórias emocionantes

Relatos de mortes prematuras no trânsito levaram participantes a defender legislação mais rígida.

05/06/2012 - 19:22

Relatos emocionantes marcaram o encerramento do segundo encontro regional do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito, na tarde desta terça-feira (5/6/12), em Governador Valadares (Rio Doce). O evento, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais em parceria com cerca de 50 instituições, tem o objetivo de discutir e buscar propostas da sociedade, para reduzir os acidentes e mortes nas ruas e estradas mineiras e se desenrolou durante todo o dia.

Dentre os palestrantes, a presidente do Instituto Trânsito Seguro (Intrans), de Ipatinga, Maria de Lourdes Barreto Silva, é mãe de Raquel Barreto, que morreu aos 24 anos, em 2008, após colisão com um carro dirigido por um homem embriagado. O drama incentivou a mãe a começar um movimento para reduzir os acidentes e punir os responsáveis. “As pessoas não podem continuar morrendo no trânsito desse jeito”, desabafou.

Com o apoio de amigos, outras famílias que viveram histórias semelhantes e profissionais preocupados com o problema, ela conseguiu fundar o Intrans e hoje lidera o Movimento Nacional de Educação e Humanização do Trânsito (Movet), que colhe assinaturas em várias cidades mineiras, para conseguir mudar a legislação que rege os crimes ocorridos no trânsito. Entre as sugestões, o Movet quer que o crime no trânsito seja considerado doloso (intencional) e hediondo, e proibir o pagamento de fiança para liberação dos responsáveis pelas mortes. O instituto também realiza campanhas educativas e presta atendimento a famílias, além de outras atividades que visam à conscientização dos motoristas e à redução dos acidentes.

Outra história que emocionou as pessoas durante os debates foi apresentada, na plateia, por Leila Sodré, que perdeu a filha Ana Paula de Souza Sodré, em 2009, aos 27 anos. Ela também foi atingida por um motorista, de nacionalidade americana, que estava bêbado. O condutor acabou preso durante um ano, mas já está em liberdade. “Minha filha não foi mãe do Antônio e da Maria, como ela sonhava ser um dia; minha filha não se casou ou terminou a faculdade”, lamentou, chorando muito. Assim como Lourdes, Leila também clama por uma legislação mais rigorosa.

Educadores e profissionais do trânsito pedem disciplina desde a educação infantil

Durante a manhã, autoridades apresentaram números e estatísticas de acidentes de trânsito no mundo, no Brasil e nas regiões dos Vales do Aço e do Rio Doce. À tarde, educadores e representantes de profissionais do trânsito falaram de estudos e trabalhos que já estão sendo realizados. Todos eles defenderam inserir a educação para o trânsito em todas as séries escolares - do ensino infantil ao superior - como forma de mudar o comportamento dos motoristas e reduzir os acidentes.

Rosely Fantoni, gerente de Educação para o Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), afirmou que o órgão realiza campanhas educativas e oferece cursos com o intuito de criar uma cultura de valores diferentes dos que estão disseminados entre os motoristas e usuários de veículos. Ela apresentou como exemplo de risco que a maioria das pessoas não usa cinto de segurança no banco de trás e que muitos motociclistas não afivelam adequadamente o capacete, práticas que ocasionam muitas lesões graves e até mortes em acidentes.

As observações da educadora foram reforçadas pelo representante dos Mototaxistas de Governador Valadares, Ivaldo Sabino da Silva. Ele disse que a cidade conta com aproximadamente 32 mil motocicletas, mas admitiu que a maioria dos condutores não é capacitada para realizar um trabalho que garanta a própria segurança e a do passageiro.

Ivaldo reclamou que os mototaxistas esperam há 12 anos pela regulamentação da profissão, o que, em sua opinião, vai implantar regras e normas que podem reduzir os acidentes. Segundo ele, pesquisas mostram que em cidades onde o mototáxi é regulamentado, o índice de acidentes é de 3%, e naquelas onde o transporte é feito sem regulamentação, a incidência sobe para 15%. “Esta é uma questão de segurança pública”, advertiu.

A consultora na área de Educação para o Trânsito e autora do livro "Campanhas educativas de trânsito: uma metodologia de classificação”, Roberta Torres, falou de sua monografia de pós-graduação. A pesquisa, transformada no livro, revelou que as campanhas educativas no Brasil não são baseadas em estudos que comprovem sua eficácia. Em seu trabalho, ela faz uma proposta para medir e analisar as campanhas, levando em consideração o público escolhido, a linguagem adequada e os instrumentos a serem usados para assegurar uma boa comunicação. “Realizar uma campanha a partir de uma metodologia vai facilitar medir sua efetividade”, defendeu.

Sugestões – O deputado João Leite (PSDB), presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa, conduziu o encontro de Governador Valadares. Ele explicou que a ALMG está levando os debates ao interior, para conhecer os desafios específicos de cada região. Ao final, será produzido um livro com as sugestões apresentadas pelos participantes.

Além de Governador Valadares, o ciclo de debates contará com outros encontros regionais: Poços de Caldas (Sul), em 13/6; Montes Claros (Norte), em 15/6; Uberlândia (Triângulo Mineiro), em 22/6; Juiz de Fora (Zona da Mata), em 25/6; Ibiá (Alto Paranaíba), em 26/6; Divinópolis (Centro-Oeste), em 28/6. O último debate será realizado em Belo Horizonte, na Assembleia, em 5/7.

O Siga Vivo tem o envolvimento de cinco comissões permanentes da ALMG: Segurança Pública; Saúde; Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Educação, Ciência e Tecnologia; e Transporte, Comunicação e Obras Públicas.