O ciclo de debates marcou a união de esforços na busca de saídas para conter a desindustrialização no Estado
Parlamentares, empresários e trabalhadores se unem em prol da produçao e do emprego

Minas enfrenta perda de competitividade da indústria

Autoridades e lideranças empresariais apontam necessidade de conter queda da participação da indústria na economia.

12/04/2012 - 19:36

A participação de produtos básicos na pauta de exportações brasileiras aumentou de 28,94% em 2003 para 47,83% em 2011. A chamada desindustrialização, fenômeno caracterizado pela redução da participação da indústria na economia nacional, preocupa autoridades, lideranças empresariais e sindicais que participaram do Ciclo de Debates Em Defesa da Produção e do Emprego, realizado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta quinta-feira (12/4/12).

Os participantes do evento foram unânimes ao apontar as causas desse problema: juros altos, câmbio desfavorável, elevada carga tributária, deficiências na educação e infraestrutura ruim. Todos esses fatores contribuem para deixar o produto nacional mais caro na comparação com os importados. Um dos setores mais atingidos é o de fabricantes de máquinas e equipamentos. Segundo a Abimaq, entidade que representa o setor, o Brasil já foi o quinto maior fabricante do mundo, mas atualmente ocupa a 14ª posição no ranking mundial.

Nos anos 80, o setor chegou a empregar 460 mil pessoas, mas hoje esse número foi reduzido a 260 mil, de acordo com o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto. A balança comercial do setor registrou déficit de 17 bilhões de dólares em 2011, e somente nos três primeiros meses deste ano, esse déficit já é de 3,5 bilhões de dólares. Mesmo com essa crise, o segmento faturou R$ 85 bilhões em 2011, um aumento de 5% em relação ao ano anterior. Mas, como explicou Luiz Aubert, esse bom desempenho deve-se ao aumento das importações de componentes da China.

Na opinião do presidente da Abimaq, o principal problema é a alta taxa de juros praticada no País. “Nem agiota russo cobra os juros que nossos bancos cobram”, brincou. Outro fator preocupante, na sua avaliação, é a baixa capacidade de investimento do País. Nos últimos dez anos, informou, a taxa de investimento nacional foi de 17% do PIB, abaixo da média mundial de 24%. Na China, esse índice é de 50%, segundo Luiz Aubert. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, Agnaldo Diniz, os incentivos às importações concedidos por vários Estados (a chamada "guerra dos portos") também prejudicam a indústria nacional.

Impacto da desindustrialização é maior em Minas

Segundo o subsecretário de Estado de Indústria, Comércio e Serviços, Marco Antônio Rodrigues da Cunha, o impacto da desindustrialização é maior em Minas Gerais, pois o Estado exporta produtos primários e importa manufaturados. Somente o minério de ferro é responsável por 45% dos embarques mineiros para o exterior. Para reverter esse quadro, ele defendeu medidas de desoneração fiscal e investimentos em infraestrutura, educação, tecnologia e inovação. As medidas de estímulo do programa Brasil Maior, do Governo Federal, na opinião do subsecretário, são apenas um alento, e não uma solução para estimular novos investimentos produtivos.

Para o presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil, Gilson Reis, é preciso discutir um novo modelo de desenvolvimento nacional. “Temos capacidade de desenvolvimento em várias áreas da produção científica, mas faltam investimentos em educação. Os Governos Estadual e Federal tratam a educação como uma questão secundária”, afirmou. O sindicalista manifestou preocupação com as medidas de desoneração da folha de pagamento do programa Brasil Maior. Ele lembrou que a redução da contribuição previdenciária patronal pode agravar o déficit da previdência e prejudicar todos os trabalhadores.

O deputado Celinho do Sinttrocel (PCdoB), que coordenou os debates, lembrou que o Vale do Aço sofre as consequências do processo de desindustrialização. A região, que já foi responsável por 80% da produção nacional de aço inoxidável, hoje responde por menos de 50%, segundo ele. Para fazer frente à concorrência do produto importado, as siderúrgicas locais ampliam a terceirização de mão de obra, como forma de reduzir custos. O parlamentar defendeu que o Governo do Estado adote medidas para estimular a indústria mineira, como dar preferência para compras governamentais de empresas locais, investir em infraestrutura e fortalecer o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.