Educação física nas escolas pode contribuir para descoberta de
atletas
A valorização do ensino da educação física nas
escolas, além de contribuir para a qualidade de vida dos alunos,
pode servir como base para o surgimento de futuros atletas. Essa
opinião foi defendida pelo 1°-vice-presidente do Conselho Regional
de Educação Física, Adailton Eustáquio Magalhães, que participou, na
manhã desta quinta-feira (26/11/09), do segundo dia de atividades da
etapa final do Seminário Legislativo Esporte, Infância e
Adolescência - Caminho para a Cidadania, no Plenário da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O encontro é promovido pela
ALMG em parceria com várias entidades, e teve quatro etapas
regionais.
Entre os assuntos debatidos na manhã desta
quinta-feira (26), estão as ações desenvolvidas para o incentivo ao
esporte de rendimento, que consiste no esporte praticado pelos
atletas, de acordo com as regras nacionais e internacionais, e tem
como objetivo a obtenção de resultados. Adailton Eustáquio Magalhães
destacou que a escola é um espaço importante para detectar os alunos
com maior capacidade para a prática esportiva e que podem
futuramente praticar o esporte de rendimento. "O professor de
educação física tem um papel fundamental, pois ele é o profissional
que deverá observar os alunos e direcionar para os clubes ou para as
federações aqueles que se destacam na turma", afirmou.
Nesse sentido, o secretário adjunto de Estado de
Esportes e Juventude, Rogério Romero, explicou que o governo vem
desenvolvendo programas como o Minas Olímpica, com o objetivo de
melhorar e incentivar a prática esportiva nas escolas, investindo na
base e procurando com isso apoiar os talentos que surgem. A
superintendente de Esporte Educacional da Secretaria de Esporte e
Juventude, Márcia Campos Ferreira, afirmou que em 2009 o Minas
Olímpica atendeu 25 mil jovens em 190 municípios.
A superintendente destacou que a formação através
do esporte é hoje uma prioridade do Governo do Estado. Márcia Campos
Ferreira falou ainda sobre os Jogos Escolares de Minas Gerais, que
são realizados desde 1977 e vêm contribuindo para ampliar a prática
esportiva nas escolas. "Nos últimos três anos conseguimos aumentar a
regionalização da competição. Atualmente 70% dos jogos são
realizados no interior", afirmou. Segundo ela, em 2009 participaram
do evento mais de 160 mil atletas de 4 mil escolas de 604
municípios.
Parceria entre secretarias potencializa resultados
A parceria entre as Secretarias de Estado de
Educação e de Esportes e Juventude foi destacada pela deputada
Gláucia Brandão (PPS), que coordenou os debates. Para a parlamentar,
a ação do governo vem contribuindo para a potencialização dos
resultados dos programas desenvolvidos em Minas Gerais. Um dos
exemplos dessa parceria, citados por Márcia Campos Ferreira, é o
aprimoramento do esporte escolar e das aulas de educação física nas
escolas de tempo integral, em que a Secretaria de Esportes
contribuiu na elaboração de material pedagógico distribuído para os
professores. Outro destaque é a participação dessa secretaria na
qualificação dos professores de educação física, sendo que nos
últimos dois anos foram capacitados mais de 1.200 profissionais.
A subsecretária de Estado de Desenvolvimento da
Educação Básica, Raquel Elisabete Santos, afirmou que o governo vem
buscando consolidar, renovar e valorizar o ensino da educação física
nas escolas. "Nosso objetivo é equipar e atender todas as escolas,
pois essa disciplina pode contribuir para a descoberta de alunos com
aptidão para a prática de esportes", afirmou. Segundo ela, nos
últimos anos a secretaria reformou e construiu 1.300 quadras, além
de ter investido na distribuição de material esportivo para as
escolas, na formação dos professores e na elaboração de material
didático.
Raquel Elisabete Santos também destacou que a
educação física nas escolas tem um papel fundamental na formação da
cidadania. Segundo ela, existem hoje vários exemplos de escolas que
tinham sérios problemas de disciplina e violência e que, após o
desenvolvimento de um projeto voltado para o ensino de educação
física, as dificuldades foram superadas.
Clubes têm papel fundamental na descoberta dos
atletas
O papel dos clubes na descoberta e formação dos
atletas no Brasil foi outro assunto debatido na manhã desta
quinta-feira (26). Segundo o presidente do Minas Tênis Clube, Sérgio
Bruno Zech Coelho, existem 13.826 clubes no Brasil, e eles são os
grandes responsáveis pela descoberta e treinamento dos atletas. Ele
citou como exemplo o fato de que dos 277 atletas brasileiros que
participaram das Olimpíadas de Pequim, 213 (77%) foram formados em
clubes.
Apesar desse papel importante dos clubes no esporte
nacional, Sérgio Bruno Coelho destacou que apenas com a aprovação da
Lei Federal de Incentivo ao Esporte, em 2007, eles passaram a
receber incentivos e apoio financeiro. "Até então, sempre tivemos
que investir no esporte por conta própria", afirmou.
Sobre o Minas, Sérgio Bruno Coelho afirmou que,
desde a sua fundação, o clube tem compromisso com o desenvolvimento
do esporte. Segundo ele, atualmente cerca de 6 mil crianças
participam das escolas do Minas. "É importante não só pensar nos
talentos descobertos nas nossas escolas e que representam uma
pequena parcela no número total de alunos, mas também na formação
desse grande número de crianças, que vão levar para a sociedade os
princípios da cidadania", considerou.
Atletas mineiros - Por fim, o subsecretário Rogério Romero
falou sobre as ações desenvolvidas com o objetivo de incentivar o
surgimento de atletas e a prática do esporte de rendimento no
Estado. Segundo ele, uma das metas é aumentar a participação de
atletas mineiros nos Jogos Olímpicos. Nas Olimpíadas de 2004, em
Atenas, participaram 22 atletas mineiros; e, em 2008, em Pequim,
foram 29 atletas.
Rogério Romero citou como exemplos de ações a
construção de uma pista de atletismo e um centro de treinamento, em
parceira com a UFMG; a construção e recuperação de mais de mil
quadras e ginásios; a regulamentação da Bolsa Atleta; e o incentivo
à realização de eventos esportivos internacionais no Estado. Ele
ainda falou sobre programas de incentivo à prática de esporte entre
portadores de deficiência, além das oficinas para a formação de
atletas no Estado.
Esporte paraolímpico cresce desde Atlanta
A criação de um centro nacional de formação de
profissionais paraolímpicos em Uberlândia foi apontada pelo
pró-reitor de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Alberto Martins Costa,
como uma importante contribuição do Estado para o Brasil. Segundo
ele, a evolução na participação dos atletas nas últimas quatro
paraolimpíadas demonstra a necessidade de se pensar em um projeto
maior para o esporte e para a pessoa com deficiência.
Desde as Paraolimpíadas de Atlanta, em 1996, o
número de atletas brasileiros com deficiência subiu de 59 para 188,
nas Olimpíadas de Pequim (2008). Nesse mesmo período, o número de
medalhas conquistadas subiu de 21 para 47. O Brasil alcançou, em
Pequim, o 9º lugar na tabela de classificação, enquanto em Atlanta
ocupou a 37ª posição no quadro de medalhas. "O Brasil é hoje uma
potência paraolímpica, e quais as perspectivas e compromissos daqui
para frente?", questionou. O professor também enfatizou a
importância do esporte para a inclusão e a reabilitação social,
psicológica e emocional da pessoa com deficiência.
Expositores condenam esporte de rendimento na
infância
O trabalho infantil no esporte foi duramente
combatido pelos expositores que trataram do tema. A promotora de
Justiça da Infância e Juventude de Belo Horizonte, Matilde
Fazendeiro Patente, foi enfática ao afirmar que as crianças não
podem ser afastadas do convívio familiar e da escola para se
dedicarem ao esporte de rendimento. De acordo com a promotora, as
crianças devem praticar o esporte de entretenimento, junto à sua
comunidade. "As crianças e adolescentes levados pelos empresários
para se profissionalizarem não têm acompanhamento psicológico para
lidar tão precocemente com a competição", acrescentou.
Matilde Patente defendeu a criação de centros
esportivos regionais que possam oferecer às crianças, sobretudo às
carentes, acesso às diversas modalidades de esporte. Para a
presidente do Fórum Estadual de Combate ao Trabalho Infantil e
Proteção ao Adolescente, Elvira Cosendey, é fundamental que as
escolas disponham de equipamentos para a prática esportiva universal
e de profissionais preparados e bem remunerados. "Temos que sair
daqui com um plano estadual do esporte, e depois lutar para que os
recursos sejam garantidos nas leis orçamentárias", defendeu. A
deputada Gláucia Brandão explicou que o plano decenal será discutido
na Assembleia no próximo ano e que também haverá uma conferência
sobre o tema.
A presidente do Fórum de Combate ao Trabalho
Infantil também apresentou denúncias feitas pelo jornal Estado de
Minas em 2006, sobre o mercado infantil do esporte. Ela afirmou
que, em vistorias realizadas com o Ministério Público, encontraram
crianças e adolescentes de clubes pequenos e grandes em dormitórios
coletivos, sem lençóis e sem privacidade; banheiros sem porta;
ambientes fétidos, sem higiene e com paredes mofadas. Além disso,
ela afirmou que os jovens lavam as próprias roupas e não têm acesso
à escola nem ocupação ou lazer nas horas livres. "Se eles não
alcançam o sucesso, que é para poucos, voltam para casa sem estudo
ou outra opção de profissionalização", afirmou. Ela acrescentou
ainda que há denúncias de pedofilia nos clubes.
A garantia de proteção especial na infância e
adolescência, prevista no artigo 227 da Constituição Federal, foi
lembrada pelo procurador do Trabalho Genderson Silveira Lisboa. Ele
explicou que o texto constitucional é bastante claro quanto ao
trabalho infantil, que é permitido somente a partir dos 16 anos. Aos
14 anos, a Constituição aceita que o adolescente trabalhe como
aprendiz, mas também nesse caso deve ter preservados os direitos
trabalhistas e previdenciários. "Os direitos fundamentais ao estudo,
lazer e convívio familiar não podem ser desprezados em situação
nenhuma", completou, dizendo que o atleta aprendiz também exerce um
trabalho.
"O esporte de rendimento tem limites morais e
legais", enfatizou. O procurador lembrou que a Constituição e a Lei
Pelé determinam que o Estado deve priorizar investimentos no
desporto educacional, que é inclusivo.
A vice-diretora da Faculdade de Direito da UFMG,
Silma Mendes Berti, fez uma exposição sobre a conceituação de
bioética e sua aplicação no esporte. De acordo com ela, a bioética
refere-se à ética no trato da vida, com foco na pessoa. A bioética,
segundo Silma Berti, deve ser usada para humanizar as situações
cotidianas. "É preciso dar consciência à ciência", concluiu.
O deputado João Leite (PSDB) deu um depoimento
sobre sua carreira de atleta profissional. Na opinião do
parlamentar, no Brasil os jogadores de futebol sempre foram
discriminados. A profissão só foi regularizada em 1976, quando os
atletas passaram a ter registro e carteira profissional. Ele
acrescentou que hoje a prática do esporte de rendimento é
acompanhada por profissionais de nível acadêmico e os atletas
brasileiros são reconhecidos mundialmente como embaixadores do
esporte.
Debates - Na fase de
debates, os participantes puderam esclarecer dúvidas e sugerir
propostas. Dentre as muitas sugestões, a que pedia a criação de uma
comissão permanente na ALMG para os assuntos relacionados ao esporte
e a juventude chamou a atenção do deputado João Leite e da deputada
Gláucia Brandão. A parlamentar se mostrou na expectativa de que os
grupos de trabalho formalizem este pedido.
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